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Notas

Aula 01


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Introdução

Nesta unidade abordaremos conteúdos essenciais ao desenvolvimento da percepção de elementos morfológicos e suas relações na composição de estruturas sintáticas recorrentes nas mensagens do modo visual.

Em projetos, esboços ou simplesmente em traços, sempre o conteúdo visual dessas mensagens comunicativas é composto por uma série de propriedades visuais que constituem a noção básica na cabeça de quem visualiza a imagem em questão. Abordaremos fundamentalmente as propriedades da forma e os diversos elementos que nela se inserem: categorias conceituais, das fundamentais às técnicas visuais aplicadas, e a comunicação visual manifesta nas imagens presentes no cotidiano urbano ou veiculadas nos meios de comunicação contemporâneos.

Quando nos comunicamos, nos expressamos por meio de signos, gestos e imagens, ou seja, verbalmente ou não. Utilizamos uma gama de imagens disponíveis não só para nos comunicarmos socialmente, mas também para a comunicação comercial de produtos e objetos, obras de arte, entre outros.

O estudo da representação e da linguagem visual certamente proporcionará uma expansão intelectual para sua atuação na área, pois tais conhecimentos são relevantes na composição de um projeto de comunicação visual.

Nesta aula vamos estudar sobre o processo de comunicação e sobre como o homem, por meio de diferentes tipos de linguagem e de representações, tornou-se sociável.

Ao final desta aula, você será capaz de:

  • enumerar processos de comunicação, linguagem e representação;
  • saber que a comunicação é fundamental para aproximar as pessoas;
  • reconhecer os conceitos e a história da linguagem e da representação.
Fonte: Studiom1 / 123RF.

O Que é Desenho

O desenho faz parte de um processo de criação no qual existe um propósito (WONG, 1998). Considerado por muitos um tipo de esforço para embelezamento das coisas, o desenho não se restringe apenas à parte estética externa. Uma cadeira bem desenhada não só tem uma aparência exterior agradável, mas também se mantém firme sobre o chão e proporciona conforto para quem quer que se sente nela (WONG, 2010).

Além disso, desenho, do italiano disegno, refere-se a uma descrição de algo, ao traçado ou delineamento de um edifício ou de uma figura, e também pode se referir a um projeto, a esboços ou à disposição de riscos, cores ou grafismos que representem animais e plantas.

No campo dos projetos, sejam da indústria ou da construção civil, o desenho revolucionou a produção em série. Segundo Wong (2010), diferentemente da pintura e da escultura, que consistem em realização de visões pessoais dos artistas, o desenho preenche necessidades práticas. Uma cadeira, além de esteticamente bela, deve ser durável, segura, produzida com um custo baixo, transportada com facilidade, desempenhando sua função de trabalho, repouso, afazeres da casa e demais atividades humanas.

ENTENDA O CONCEITO

O conceito de “desenho” se aplica a várias áreas no contexto das artes, ou seja, disciplinas e profissões que envolvem criatividade. Na Arquitetura, na Engenharia, no Design, na Publicidade e em outras áreas mais, o desenho faz parte do processo de criação. A transmissão e a comunicação daquilo que se deseja devem traduzir elementos visuais, e o desenho consiste em uma visão representada graficamente de uma futura obra.

O Desenho Como Habilidade

O ato de desenhar pode ser desenvolvido e aprendido por qualquer pessoa, isto é, não requer super-habilidades, como coordenação motora ou visão aguçadas. Desde os primórdios da humanidade o desenho se tornou uma forma de comunicação em sociedade. Pinturas rupestres encontradas em cavernas, feitas em carvão e pigmentos coloridos, relatavam o cotidiano vivido por aquelas pessoas, suas crenças, festas, animais, batalhas etc.

O desenvolvimento da escrita – ou o desenho de símbolos e signos que representam e juntos formam uma mensagem – foi primordial para a comunicação, a evolução e a vida em sociedade da humanidade.

Segundo Edwards (2003), em Desenhando com o lado direito do cérebro, o desenho é uma habilidade que pode ser desenvolvida e ensinada, aprendida por qualquer pessoa que tenha visão e coordenação motora medianas. Se uma pessoa possui uma escrita legível, isso mostra que ela pode desenvolver a habilidade do desenho.

Figura 1: Desenho de projetos
Fonte: Carmenmsaa / 123RF.

Em um processo projetual, o desenhista é o responsável por apresentar de forma rápida e clara soluções para problemas. Wong (2010) destaca que os problemas com que o desenhista se depara são sempre dados, e eles devem ser solucionados com o desenvolvimento de ideias, discussões e tentativas, sem alterar nenhum dos problemas.

Atenção

O profissional que utiliza o desenho como ferramenta de trabalho deve experimentar todos os tipos de desenho. É importante desenvolver suas habilidades mediante a repetição, fazendo disso um hábito. Tal prática levará ao aperfeiçoamento da técnica.

Elementos do Desenho

Os elementos formadores do desenho estão muito relacionados entre si. Para seu entendimento, é necessário saber sobre composição e proporção dos objetos e de todo o nosso entorno. Segundo Hallawell (2004), o primeiro fundamento a abordar no aprendizado do desenho é a composição, uma vez que, antes de medir as proporções ou verificar as formas de um objeto a ser desenhado, precisamos saber colocar um desenho em um espaço, conhecer as propriedades desse espaço e perceber como o olho reage a ele.

Pode-se distinguir quatro grupos de elementos (WONG, 2010):

  • Elementos conceituais
  • Elementos visuais
  • Elementos relacionais
  • Elementos práticos

Analisados individualmente, cada elemento pode parecer abstrato, mas juntos determinam a aparência e o conteúdo final do desenho. O desenho é formado por linhas, pontos, cores, espaços vazios, manchas claras e escuras – ou seja, uma composição de elementos organizados –, tornando-se o primeiro passo em qualquer trabalho visual.

Elementos Conceituais

Os elementos conceituais não existem fisicamente, mas podem ter sua presença sentida por meio da representação de um ponto, linha, plano ou volume (WONG, 2010).

Ponto

Como gerador elementar da forma, o ponto marca uma posição em um campo espacial (CHING, 2002). É a mais simples unidade de uma comunicação visual e, conceitualmente, não possui dimensão, sendo fixo e sem direção (FILHO, 2009). Toda representação de um ponto exerce uma forte atração visual, seja ela de existência natural, seja de quando é produzida em resposta a algum objetivo (DONDIS, 2007).

Um ponto pode servir para demarcar duas extremidades de uma linha, a intersecção de duas linhas, o encontro de linhas na extremidade de um plano ou volume ou mesmo o centro de um campo visual (CHING, 2002).

Figura 2: Exemplo do elemento ponto
Fonte: Microone / 123RF.

Quando o ponto assume a posição central de um campo, é considerado estável e capaz de organizar outros elementos ao seu redor. Ao assumir uma posição descentralizada, ele se torna mais dinâmico, embora ainda conserve sua qualidade centralizadora. Formas que são geradas por pontos, como o círculo e a esfera, compartilham essa característica de natureza estável (CHING; BINGGELI, 2013). Em grande quantidade e justapostos, os pontos são capazes de criar a ilusão de tom ou cor (DONDIS, 2007).

Linha

Em termos conceituais, a linha é um elemento unidimensional que possui apenas extensão contínua – comprimento (CHING; JUROSZEK, 2012). É originada por um ponto estendido que, por meio da sua trajetória de deslocamento, pode conferir à linha um caráter visual de direção, movimento e crescimento (CHING, 2002).

Como função primordial, a linha delimita arestas e contornos, definindo as bordas das figuras planas, além de poder ser usada para unir, sustentar ou interseccionar outros elementos, marcar o local de união ou interseção de dois planos ou criar texturas e padrões nas superfícies bidimensionais (CHING, 2002).

Figura 3: Exemplo do elemento linha aliado ao elemento ponto
Fonte: Vasyl Torous / 123RF.

ENTENDA O CONCEITO

À medida que um ponto se move, sua trajetória se torna uma linha. Essa linha tem comprimento, mas não tem largura. Tem posição e direção. É limitada por dois pontos. Forma a borda de um plano.

Fonte: Wong (2010).

Plano

A trajetória de uma linha em movimento (que siga uma direção que não seja a sua própria e intrínseca) transforma-se em um plano. Conceitualmente, um plano possui comprimento e largura, além de posição e direção. É limitado por linhas e define os limites externos de um volume (WONG, 2010).

Figura 4: Exemplo formação do plano – movimento em uma direção que não seja a sua própria intrínseca
Fonte: Aleksandra Alekseeva / 123RF.

Volume

Conceitualmente, um volume é o resultado da trajetória de um plano em movimento que se dirige a uma direção que não seja a sua intrínseca (WONG, 2010).

Figura 5: Exemplo do elemento linha volume pictórico
Fonte: Dmitri Luchinovich / 123RF.

A forma volumétrica pode ser 1) física ou real, quando seu volume é definido como algo que se revela por projeção nas três dimensões do espaço: comprimento, largura e profundidade (FILHO, 2009), ou 2) virtual, quando no desenho bidimensional seu volume é ilusório (WONG, 2010).

Elementos Visuais

Em uma representação gráfica, desenhamos uma linha visível para simbolizar um elemento conceitual (WONG, 2010). Esses conceitos, quando englobados, se tornam visíveis e variáveis, adquirindo formato, tamanho, cor e textura; eles representam uma parte proeminente do desenho, já que constituem a aparência do que realmente pode ser visto (WONG, 2010):

  • formato;
  • tamanho;
  • cor;
  • textura.

Formato

Todo objeto que possa ser visto tem um formato que nos permite identificá-lo pela nossa percepção (WONG, 2010).

Figura 6: Formato básico das blocos Lego
Fonte: Kari Haraldsdatter HÃglund / 123RF.

O formato revela-nos a principal identificação de uma forma. Ele pode se referir ao contorno de uma linha, ao perfil de um plano ou ao limite de um volume tridimensional. Independentemente da situação, ele é identificado como a configuração das linhas ou planos que separa uma forma de seu fundo ou entorno (CHING; BINGGELI, 2013).

REFLEXÃO

“[...] não se pode criar uma saída verdadeiramente nova a partir do desenho por si só, já que ele é em si um processo que envolve apenas transformar uma imagem abstrata em uma figura ou forma concreta”.

Fonte: Toshiharu Taura e Yukari Nagai.

A percepção de um formato acontece por intermédio da relação com outros formatos ou do espaço no qual ele se encontra. No limiar da percepção visual, podemos distinguir que partes de uma composição se destacam contra um fundo menos evidente, caracterizando a relação figura e o fundo (CHING; JUROSZEK, 2012).

Tamanho

Segundo Ching (2002), o tamanho engloba as dimensões mensuráveis de comprimento, largura e profundidade de uma forma. A relatividade do tamanho diz respeito a como descrevemos o seu formato em termos de grandeza ou pequenez. Todos os formatos têm um tamanho (WONG, 2010).

Figura 7: Malha com dimensões básicas dos blocos Lego
Fonte: Siminitzki / 123RF.

Cor

A cor é impregnada de informação e de significados simbólicos, constituindo uma das mais penetrantes experiências visuais compartilhadas universalmente (DONDIS, 2007).

De acordo com Wong (2010), é por meio da cor que um formato de distingue de seu entorno; a cor é utilizada em seu sentido mais amplo, compreendendo desde suas matizes até tonalidades neutras (preto, branco e todos os cinzas intermediários) e todas as variações cromáticas.

Atenção

O sistema límbico é uma região profunda do cérebro; os cientistas acreditam que nele há um envolvimento na estruturação das nossas emoções mais intensas e fortes.

Fonte: Edwards (2003).

Na percepção visual, podemos identificar três dimensões que correspondem aos parâmetros básicos de uma cor: matiz, saturação e valor (DONDIS, 2007). A primeira dimensão da cor é o matiz, que representa a cor em si. Existem três matizes primários: amarelo, vermelho e azul. A segunda dimensão da cor é a saturação, também chamada de intensidade, que se refere à pureza relativa ou à vivacidade de um matiz (CHING, 2010). A terceira característica primordial de uma cor é acromática: é o brilho relativo, do claro ao escuro, das gradações tonais ou de valor (DONDIS, 2007).

Figura 8: Círculo cromático com doze matizes, suas saturações e intensidades
Fonte: Tuulijumala / 123RF.

Textura

A superfície de um elemento pode identificar sua textura pelo tato ou pelo olhar, ou até mesmo pela combinação de ambos os sentidos (WONG, 2010). Ainda segundo Wong (2010), as texturas podem ser simples ou decoradas, lisas ou ásperas.

Figura 9: Textura construída com blocos Lego
Fonte:  alhovik / 123RF.

Elementos Relacionais

Os elementos relacionais governam a localização e as inter-relações das formas dos elementos. Alguns podem ser percebidos, como é o caso da posição e da direção, enquanto outros são apenas sentidos, como o espaço e a gravidade (WONG, 2010).

Posição

A posição representa a situação de uma forma em relação ao ambiente ou campo visual dentro do qual é visualizada (CHING, 2002).

Figura 10: Posição de um ponto dentro de um campo espacial
Fonte:  Surfupvector / 123RF.

Direção

A direção representa a orientação de uma forma em relação ao plano de solo, aos pontos cardeais, a outras formas ou à nossa observação (CHING, 2002).

Figura 11: Um cubo visto de vários ângulos
Fonte: Amasterpics / 123RF.

Espaço

O espaço real pode ser de qualquer tamanho; ele pode ser visualizado como espaço ocupado positivamente, não ocupado ou internamente oco, plano ou ilusório (WONG, 2010).

Figura 12: Espaço real
Fonte: Polesnoy / 123RF.

Gravidade

A gravidade é um fenômeno real que influencia a estabilidade de uma forma. Não é visual, mas psicológica. As formas são atraídas pela gravidade da Terra; assim, não é possível conceber formas suspensas no ar sem apoiá-las ou ancorá-las de alguma maneira. O material utilizado é responsável por estabelecer sua estabilidade, peso e capacidade de suportar as cargas gravitacionais de outros elementos formais (WONG, 2010).

Figura 13: Orientação em relação ao plano de base, à atração da gravidade e à nossa linha de visão
Fonte: Versusstudio / 123RF.

Linguagem Visual

A palavra “linguagem” é oriunda do grego logos. Paralelamente a essa etimologia há também a derivação da língua inglesa, logic, que significa “pensamento” e “razão” (DONDIS, 2007).

REFLEXÃO

A linguagem separa, nacionaliza; o visual unifica. A linguagem é complexa e difícil; o visual tem a velocidade da luz e pode expressar instantaneamente um grande número de ideias.

Fonte: Dondis (2007).

Interpretando a Linguagem Visual

Ao longo de sua evolução, o homem desenvolveu o recurso da linguagem para se comunicar, utilizando-a em sua forma auditiva, pura e primitiva, até desenvolver a capacidade de ler e escrever (DONDIS, 2007).

A linguagem visual pode ser interpretada de diversas maneiras, diferentemente das linguagens falada ou escrita, que têm regras gramaticais preestabelecidas (WONG, 2010). Para Wong (2010), na linguagem visual não existe nenhuma regra evidente: cada leitor do desenho o interpreta de uma forma única.

O processo de aprendizagem de uma criança ocorre em primeiro lugar por meio da consciência tátil (DONDIS, 2007). Além do conhecimento tátil, a criança aguça e estimula o paladar, a audição e o olfato, mas nada comparado à capacidade de ver, de identificar visualmente seu meio ambiente (DONDIS, 2007).

De acordo com Dondis (2007), praticamente desde nosso primeiro contato com o mundo em que vivemos passamos a organizar nossas preferências, nossas necessidades, tudo que nos agrada e nos torna temerosos de acordo com o que vemos ou que queremos ver.

Figura 14: Desenho feito por umacriança – homem e sua casa em um dia ensolarado
Fonte: Jose Robles / 123RF.

Fechamento

Os conceitos de comunicação visual, como vimos nesta aula, se desenvolveram e evoluíram ao longo dos tempos pela ação do homem social por meio de técnicas, processos, meios e sistema normativos capazes de auxiliar na comunicação no uso de seus elementos.

Nesta aula tivemos a exposição do conteúdo, tratando do desenho e de seu papel fundamental dentro da linguagem visual, norteado pelos elementos visuais, encarregados de elucidar o esquema comunicativo no qual as informações estão inseridas, além de orientar os fatores que envolvem a linguagem visual, estabelecendo a formação de uma expressão autêntica. O ponto central desta aula é o incentivo a olhar e perceber o mundo ao nosso redor utilizando métodos de observação para um alargamento criativo, amparado no conhecimento prático e teórico.

Nesta aula, você teve a oportunidade de:

  • entender que o desenho faz parte do processo de criação;
  • compreender os elementos do desenho;
  • estudar a linguagem visual e sua interpretação.

Vídeo

Para complementar o seu aprendizado, assista à videoaula a seguir:

Aula Concluída!

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