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Notas

Aula 02


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Introdução

Nesse estudo vamos conhecer alguns processos de lei de organização da Gestalt. Processos perceptivos básicos que atuam em concordância com uma série de princípios. Esses princípios relatam de que maneira organizamos pedaços e proporções de referências em unidades que possuem significado.

A concepção gestáltica da percepção chama atenção para a maneira como nós interpretamos os elementos individuais de uma composição como um todo unificado e completo.

As leis da Gestalt possuem regras que explicam a origem das percepções a partir dos estímulos, vamos entender como funciona esse mecanismo, como o cérebro humano organiza essas percepções, de que forma simplificamos os estímulos complexos e reduzimos a algo compreensível.

Para entender, vamos conhecer essas leis: unificação e segregação; fechamento; continuidade; semelhança e pregnância da forma.

Ao final desta aula, você será capaz de:

  • reconhecer as leis de organização da Gestalt nas composições;
  • entender como o cérebro adiciona componentes para interpretação de figuras parciais;
  • compreender como os estímulos atuam para percepção da mensagem.
Fonte: Vlad Kochelaevskiy / 123RF.

Leis da Gestalt

Há muitos sinais diferentes que adentram ao mesmo tempo em nosso sistema perceptivo cerebral. A compreensão de como um projeto (visto como uma forma, figura) é apreendido e reconstruído funciona como um recurso importante que, sem dúvida, os comunicadores visuais e designers devem saber utilizar. Não podemos prever e estimular determinadas concepções a respeito de nossos projetos se não entendermos as forças motrizes por trás deles.

Compreendendo que as leis de organização da Gestalt têm guiado os estudos sobre como as pessoas percebem componentes visuais como padrões organizados ou conjuntos, cabe conhecer, em vez de suas partes componentes, quais leis básicas legitimam tais pressupostos.

Conforme observa Gomes Filho (2009), as leis ou forças iniciais da teoria da Gestalt são a unificação e a segregação. Em seguida, tem-se as leis de unidade, fechamento, continuidade, proximidade e semelhança e, por fim, a pregnância da forma que, para o autor, é a lei básica da percepção visual da Gestalt. Essas leis são responsáveis pela percepção humana das formas, facilitando a compreensão das imagens e ideias. São, portanto, conclusões sobre o comportamento natural do cérebro, no que concerne ao processo de percepção.

ENTENDA O CONCEITO

A psicologia da Gestalt ressalta que o cérebro organiza espontaneamente informações visuais em padrões.

Fonte: Gomes Filho (2009).

Unificação, Unidade e Segregação

As leis de unificação, unidade e segregação são estreitamente relacionadas, por isso a necessidade de explicá-las conjuntamente. A unificação, conforme apontado por Fraccaroli (1982), age em nossa percepção visual em virtude da igualdade de estímulos, ou seja, quando há equilíbrio e ordenação visual.

Essa tendência à unificação se relaciona com a lei da Gestalt chamada unidade, na qual os elementos são percebidos por meio da verificação das relações (formais, dimensionais, cromáticas etc.). Já a lei da segregação age em virtude da desigualdade de estimulação. No que tange ao funcionamento da lei de unificação em nosso mecanismo perceptual, essa força interna tende a unificar elementos semelhantes para formar a imagem.

Gomes Filho (2009) explica que o conceito de unificação pode ser facilmente percebido no exemplo a seguir, em que na primeira representação (em rosa), tem-se uma unificação tida como perfeita, pelo fato de possuir proximidade, semelhança, fechamento e boa continuidade dos elementos, enquanto na segunda imagem há uma unificação prejudicada pelo fato de existir uma unidade vazada ou ausente e uma unidade na cor amarela, conferindo-a um ruído visual. Já na terceira imagem, a unificação é ainda mais prejudicada, pelo fato de, além da ausência das unidades quadradas, observar-se a forma circular que destoa das demais. Por fim, na quarta imagem, a lei de unificação desaparece completamente pela total desordenação e irregularidade formal e cromática.

Figura 1: Exemplo da lei da Gestalt unificação e suas variáveis
Fonte: Adaptada de Gomes Filho (2009).

Sobre a lei de unidade, observa-se que “nela, uma ou mais unidades são percebidas dentro de um todo por meio de pontos, linhas, planos, volumes, cores, sombras, brilhos, texturas entre outros atributos isolados ou combinados entre si” (GOMES FILHO, 2009, p. 29).

ENTENDA O CONCEITO

De acordo com as teorias gestálticas, o observador identifica e assimila, mentalmente, de modo mais fácil, as formas mais simples, regulares e simétricas, segundo diversos princípios.

Fonte: Montaner (2002).

A figura seguinte, que pode ser considerada uma unidade visual contínua, fechada em si mesma, ou seja, percebemos a mensagem pela união de várias letras, como uma unidade. Cada uma das letras é uma unidade visual composta por partes que formam um só elemento, uma só unidade. Em ambos os casos percebemos uma unidade visual pela relação de igualdade de estimulação que a cor (relação cromática) e espessura dos traços horizontal e vertical (relação formal e dimensional) nos transmite.

Sendo assim, seguindo o que nos diz Gomes Filho (2009, p. 29), pode-se compreender por unidade “o conjunto de um ou mais elementos que configuram o todo propriamente dito, ou seja, o próprio objeto”.

No logotipo da Figura 2, da marca Dior, podemos dizer que há cinco unidades: o fundo e cada uma das quatro letras que formam o nome da empresa; ou duas unidades: o fundo e o logotipo.

Figura 2: Unidade da forma
Fonte: happymay / 123RF.

Note que, diante da lei da Gestalt, é possível perceber que nosso cérebro agrupa elementos similares, interpretando-os como uma unidade, ao passo que, para perceber, no exemplo anterior, a figura representativa da logo da Dior em duas unidades, foi necessário que nosso cérebro dividisse o fundo e a escrita, ou seja, que segregasse a forma visualizada pela retina. Nesse aspecto, notamos a estreita relação entre as leis iniciais da Gestalt: unificação e segregação.

De acordo com Tessari (2015), um carro, por exemplo, pode ser considerado uma unidade. Entretanto, é constituído por várias partes, que incluem as rodas, faróis, para-brisas, entre outros. No entanto, a segregação “significa a capacidade perceptiva de separar, identificar, evidenciar, notar ou destacar unidades, em um todo compositivo ou em partes deste todo, dentro das relações formais, dimensionais de posicionamento” (GOMES FILHO, 2009, p. 30).

Essa segregação pode ser feita por diversos elementos visuais, como: cores, sombras, texturas, pontos, linhas etc.

Embora o nosso cérebro segregue a figura, o fundo preto evidencia a escrita que contém todo o preenchimento na cor branca, o que comprova nossa capacidade perceptiva de separar uma ou mais unidades na composição inteira. Essa força de segregação pode ser útil na aplicação em projeto de design, por exemplo, para destacar alguma parte do objeto que se deseja privilegiar.

Conforme dito, no Design de Produto, a lei de segregação também está presente. Dependendo do contraste, peso ou estímulo causado pelo elemento visual, ele terá mais destaque ou irá diferenciar de outros elementos da mesma composição (DENVIR, 2013).

SAIBA MAIS

Gestalt: a “Psicologia da forma” é uma escola de psicologia que estuda os fundamentos da percepção humana e as bases de sua estrutura mental”.

Fonte: Colin (2000).

A lei de segregação também contempla uma tendência perceptiva chamada segregação figura-fundo. Gomes Filho (2009) explica que percebemos mais facilmente as figuras bem definidas e salientes do que as que se inscrevem em fundos indefinidos e mal contornados. Um exemplo clássico dessa tendência é o “vaso de Rubin” (Figura 3) no qual um cálice branco é pintado num fundo preto. Nele, percebemos um vaso ou duas faces se entreolhando, dependendo da escolha de nosso cérebro quanto ao que será a figura (o tema da imagem), e o que será fundo. No caso de figura/fundo, uma linha pode ser entendida de duas maneiras, pois a forma do contorno depende de qual lado da linha é visto como parte da figura. Isso é importante porque o sistema visual compreende os objetos primeiramente em termos de seu contorno.

Figura 3: Vaso de Rubin
Fonte: Peter Hermes Furian / 123RF.

O vaso de Rubin é uma das ilusões de óptica mais famosas e também uma das imagens mais associadas à Gestalt. É parte de um conjunto de ilusões de óptica desenvolvido pelo psicólogo dinamarquês Edgar Rubin no início do século XX. Em termos de Gestalt, essa habilidade em segregar figura/fundo é produzida pela tendência de percepção ambígua entre duas ou mais interpretações alternativas (ANDRADE, 2016). É importante destacar que, embora a ilusão de óptica esteja presente na maioria das leis da Gestalt, por também ser uma das propriedades da percepção visual, essa teoria não é uma lei, fator ou preceito gestaltista, mas um aspecto que se complementa à Gestalt.

Fechamento

A lei de fechamento abrange as forças internas de organização da forma em nosso sistema perceptível que, de maneira natural, tendem a formar unidades em todos fechados. Para Fernando (2012), “a sensação de fechamento visual ocorre pela continuidade de elementos numa ordem estrutural definida, em que se tem a sensação de a imagem estar totalmente fechada”. Gomes Filho (2009, p. 32) ressalta que “é importante não confundir a sensação de fechamento sensorial, de que se trata a lei da Gestalt, com o fechamento físico, contorno real, presente em praticamente todas as formas dos objetos”.

Nas exemplificações presentes nas figuras a seguir é possível notar a força de fechamento presente em nosso mecanismo de percepção visual. Essas forças procuram uma ordem espacial lógica, de forma a organizar a mensagem capturada pela retina e, assim, confirmar o significado formal desejado. Nosso cérebro adiciona componentes que faltam para interpretar uma figura parcial como um todo. Assim, a memória visual e o repertório imagético cultural também são fatores importantes nesse processo.

Isso ocorre, gestalticamente falando, porque tendemos a realizar o fechamento de uma estrutura imaginando sua continuidade, seguindo o que Gomes Filho (2009) chama de ordem espacial lógica. Além disso notamos a presença da força de fechamento em composições mais elaboradas.

Figura 4: Fechamento da imagem
Fonte: ricochet64 / 123RF.

Verifica-se o uso na criação de logotipos e projetos memoráveis, como o famoso logotipo da organização de preservação Global WWF (Fundo Mundial para a Natureza), com a figura de um urso panda (Figura 4), e a logo da marca de uísque escocês Johnny Walker (Figura 5), ambas baseadas no conhecimento sobre a lei de fechamento da Gestalt.

Figura 5: Logotipo com o princípio do fechamento da Teoria Gestalt
Fonte: bizoon / 123RF.

Nesse processo, o princípio de que a boa forma se completa, se fecha sobre si, formando uma figura delimitada, acontece, ou seja, completamos visualmente um objeto incompleto (VIANA, 2009). Resumidamente, na lei de fechamento, nosso cérebro adiciona componentes que faltam para interpretar uma figura parcial como um todo.

SAIBA MAIS

Como curiosidade, cabe acrescentar ainda que o termo Gestalt, que se generalizou dando nome ao movimento, no seu sentido mais amplo, significa uma integração de partes em oposição à soma do todo.

Fonte: Gomes Filho (2009, p. 18).

Podemos notar que o fechamento é uma Lei da Gestalt muito interessante para se utilizar no Design. Porém, é necessário atentarmos para algumas considerações: a) o fator cultural, em que é relevante analisar se o objeto a ser representado é comum à cultura e região a qual será destinada; b) analisar a abrangência geográfica de atuação da marca ou do designer, considerando que em outras culturas as pessoas podem não reconhecer a figura planejada por não estarem visualmente habituadas com aquela forma visual ou objeto. Em marcas mundiais esse aspecto é um elemento fundamental para que a comunicação seja bem dirigida e entendida; c) a clareza do projeto, ponderando que, mesmo dentro de uma mesma cultura, um objeto pode não ser reconhecido. Isso ocorre por diversos motivos, sejam de repertório cultural do observador ou problemas de composição da figura como: elementos dimensionados muito distantes ou próximos uns dos outros, causando ruído visual, o contraste entre figura e fundo não contribuir para o reconhecimento da forma visual etc.

De acordo com Gomes Filho (2009) existem aspectos importantes que permeiam todas as imagens: a instigação artística e a atração visual. Nesse sentido, uma das buscas de todo o Designer, seja qual for sua área de atuação, é projetar propostas e produtos que confiram sensações interessantes e fascinem os usuários. Um dos caminhos para que isso ocorra é conhecer as sensações decorrentes do processo de percepção visual, o que requer estudos, análises e testes que precisam considerar as questões funcionais do projeto - em especial as simbólicas.

Continuidade

A lei da Gestalt de continuidade, ou continuação, diz respeito à impressão visual de como as partes (pontos, linhas, planos, volumes, texturas, brilhos etc.) se sucedem por meio da organização perceptiva da forma, de modo coerente, sem quebras ou interrupções na sua trajetória ou fluidez visual (GOMES FILHO, 2009). Pallamin (1989, p. 24), observa que “toda unidade linear tende a se prolongar na mesma direção e com o mesmo movimento”, isso ocorre também no nosso processo de percepção e sensação visual. A continuidade está relacionada à fluidez visual dos elementos de uma figura, buscando “alcançar a melhor forma possível do objeto, a forma mais estável estruturalmente, em termos perceptivos. Nesse caso, a Gestalt a qualifica utilizando o adjetivo de boa continuidade” (GOMES FILHO, 2009, p. 33).

Conforme Denvir:

Se os elementos de uma composição conseguem ter uma harmonia do início ao fim, sem interrupções, podemos dizer que ele possui uma boa continuidade. Esta harmonia pode ser feita através de formas, cores, texturas, etc. Por exemplo: uma paleta de cores que começa no tom mais escuro e termina com o tom mais claro. A continuidade é importante para que o cérebro decifre melhor o código visual de uma composição. Ou seja, facilitar a compreensão e a comunicação de uma peça gráfica [ou design de produto], por exemplo. Em uma linha contínua de pontos, nosso cérebro reconhece aquela continuidade como uma linha. Assim ele não precisa decifrar cada forma (que seriam os pontos) (DENVIR, 2013, p. 135).

Vamos aos exemplos: este princípio da Gestalt está relacionado à coincidência de direções ou alinhamento das formas dispostas. Quando vários elementos apontam para o mesmo canto, por exemplo, nossa mente tende a acompanhar a direção para a qual a figura aponta.

Segundo Viana (2009, p. 85), na lei da continuidade “há uma tendência de a nossa percepção seguir uma direção para conectar os elementos de modo que eles pareçam contínuos ou fluir em uma direção específica”. Gomes Filho (2009, p. 33), complementa, expondo que as formas orgânicas geralmente possuem maior fluidez de continuidade, conferindo ainda mais suavidade visual à forma. “Em design e arquitetura, por exemplo, esse conceito transformou-se em técnica visual coadjuvante muito utilizada na concepção de inúmeros produtos”. O mesmo autor expõe que o círculo e a esfera possuem a configuração formal de melhor continuidade, visto que em formas orgânicas ou configurações curvilíneas, o olhar do observador não sofre interrupção ou desvio no seu percurso, conforme verificado na Figura 6, que tem formato em círculo, configurado de forma curvilínea.

Figura 6: Forma curvilínea - Lei da Continuidade
Fonte: ximagination / 123RF.

Em ambos os casos, a configuração sinuosa dos projetos transmite a sensação de um ligeiro movimento visual, valorizando a plasticidade em termos de equilíbrio e harmonia. Esses aspectos, presentes na lei de continuidade são fundamentais para as projeções de Design.

REFLEXÃO

Para cada produto existe uma forma mais adequada à sua função e é nesta busca da forma pela função que o designer trabalha. Essa citação revela o princípio fundamental do design de produto.

Fonte: Munari (1997).

Vejamos uma aplicação prática em Design. Andrade (2016, p. 65), explica essa questão ao afirmar que, em Gestalt, na lei da proximidade, a distância entre os elementos da composição desempenha um papel fundamental na determinação da percepção visual. “Coisas que são próximas entre si são percebidas como mais relacionadas do que coisas que estão espalhadas e distantes. O conceito subjacente ao conceito de proximidade é o conceito de grupo”, isto é, pela proximidade, formamos unidades.

Semelhança

A semelhança ou similaridade é um das leis da Gestalt que se refere à capacidade natural do nosso cérebro de estabelecer mais relações entre elementos similares do que com elementos diferentes. Pallamin (1989, p. 24) complementa observando que nessa força interna de percepção “elementos que têm qualidades em comum constituem naturalmente unidades ópticas”. Isso ocorre, conforme o autor, pela relação de semelhança que possuem, sejam “semelhanças de forma, cor, textura, dimensão, que despertam a tendências dinâmica de agregação”.

Diante das exposições feitas sobre a lei de semelhança, você deve estar se questionando se essa lei não é igual ou muito parecida com a lei de proximidade. De fato há relação entre elas, pois “semelhança e proximidade são dois fatores que, além de concorrerem para a formação de unidades, concorrem também para promover a unificação do todo, daquilo que é visto, no sentido de harmonia e equilíbrio visual” (GOMES FILHO, 2009, p. 35). Porém, segundo Fraccarolli (1982), a lei de semelhança tem um fator mais forte de organização do que a lei de proximidade.

Isso acontece porque nossa capacidade de percepção visual privilegia primeiro a semelhança entre os elementos, para depois privilegiar a proximidade em seu processo de agrupamento visual, ou seja, de estruturação e organização da forma.

Sobre a importância de considerar a lei da semelhança em projetos de Design, Andrade (2016) afirma que compreender as relações de semelhanças não só ajuda a assumir que elementos são relacionados uns com os outros, mas também que uma estrutura se estabelece em termos de padrões. Nessa estrutura, objetos que compartilham algumas características similares entre si criam coesão no projeto, o que é muito importante, visto que nosso cérebro automaticamente busca por padrões, por organizar harmonicamente a figura que visualiza, entendo-a como boa, interessante, bonita ou não, dependendo de sua clareza estrutural.

ENTENDA O CONCEITO

A forma de um modo mais prático, ela nos informa sobre a natureza da aparência externa de alguma coisa, e tudo que vemos possui forma cuja percepção é o resultado de uma interação entre o objeto físico e a luz, agindo como transmissor de informação, e as condições e imagens que prevalecem no sistema nervoso do observador, que é, em parte, determinada pela própria experiência visual.

Fonte: Aumont (2004, p. 39).

Pregnância da Forma

De acordo com Fraccarolli (1982), a teoria da Gestalt contempla uma lei geral que abrange todas as outras: a lei da pregnância da forma ou “boa forma”.

Para o autor, segundo esse princípio, as forças de organização da forma buscam por clareza, unidade, equilíbrio da boa Gestalt ou boa forma. A hipótese é que a fisiologia da Gestalt, em termos de dinamismo sensorial, procura por estabilidade, ou seja, por facilidade de interpretação da figura ou forma visualizada pela retina. Sendo assim, a pregnância da forma determina a facilidade com que percepcionamos figuras, principalmente aquelas mais simples, regulares, simétricas e equilibradas. Isto é, quanto mais pensada uma forma para que seja entendida de maneira clara pelo observador, melhor pregnância terá. Em outras palavras, segundo Gomes Filho (2009, p. 36),

pode-se afirmar que um objeto com alta pregnância é um objeto que tende espontaneamente à uma estrutura mais simples, mais equilibrada, mais homogênea e mais regular. Apresenta um máximo de harmonia, unificação, clareza formal e um mínimo de complicação na organização de suas partes.
Figura 7: Lei da Pregnância da Forma
Fonte: joeppoulssen / 123RF.

Em relação à lei de pregnância da forma, existem alguns condicionantes que podem influenciar na boa percepção da imagem, logo, o domínio desses aspectos se apresenta como relevante. Nesse sentido, Gomes Filho (2009, p. 36) expõe que o contraste é um elemento importante para a legitimidade e clareza da percepção visual. “O contraste entre cor do fundo e cor do texto influencia a leitura visual devido a maior ou pior pregnância da forma”. Cores neutras têm melhor contraste, logo, melhor pregnância e facilidade de entendimento e leitura.

Para Gomes Filho (2009, p. 37), “uma melhor pregnância pressupõe que a organização formal do objeto, no sentido psicológico, tenderá a ser sempre a melhor possível do ponto de vista estrutural”. Desse modo, o autor relata os seguintes critérios de qualificação e julgamento da forma:

a) Quanto melhor ou mais clara for a organização visual da forma, em termos de facilidade de compreensão e rapidez de leitura ou interpretação, maior será o seu grau de pregnância;
b) Naturalmente, quanto pior ou mais complicada e confusa for a organização visual do objeto, menor será o grau de pregnância; Pode-se estabelecer um grau ou índice de pontuação para pregnância da forma, como: baixo, médio, alto (GOMES FILHO, 2009, p. 37).

Todavia, a imagem a seguir, causam atrito visual e confusão quanto à sua percepção, conferindo uma pregnância ruim ou baixa, além de certo desconforto ao observador. Desse modo, se nosso cérebro não percebe claramente o objeto, podemos dizer que não há uma boa Gestalt.

Figura 8: Lei da Pregnância da Forma - exemplo de baixa pregnância da forma
Fonte: Peter Hermes Furian / 123RF.

Cabe destacar que a lei da pregnância da forma funciona, efetivamente, como uma interpretação analítica conclusiva do objeto como um todo. Organizamos nossas experiências de forma simples e coerente, sendo que esse princípio faz parte de nossa formação perceptiva cerebral. A percepção, de acordo com Pivetta (2016, p.32), é a imagem mental que se forma apoiada em nossas experiências e necessidades, sendo o resultado de um processo de seleção e interpretação das sensações que dependem de diversos fatores, a saber: “percepção de formas; percepção de faces e emoções associadas; percepção de relações espaciais, que envolvem profundidade, orientação e movimento; percepção de cores; percepção de intensidade luminosa” etc.

A autora complementa sua exposição afirmando que existem outros conceitos da teoria da Gestalt importantes para a atividade criativa e o Designer, que são:

  • Emergência: ao observar a imagem de um objeto, nota-se que, primeiramente, é vista como um todo, para depois serem vistas as partes que o compõem;
  • Reificação: habilidade de transformar ideias em objetos, de transformar um conceito abstrato em realidade concreta;
  • Percepção multiestável: a visão não para enquanto se está observando a imagem, ela se alterna entre figura e fundo, rosto, palavras e nome etc.;
  • Invariância: alguns elementos, como as palavras, são reconhecidos independentemente da sua posição, tamanho ou distorção. Isso porque estamos habituados com sua forma, ou seja, a forma resiste à deformação que lhe é aplicada.

Gomes Filho (2009) explica que as ações cerebrais buscam estabilidade e a Gestalt explica essas ações como sendo forças integradoras que tendem à estruturação, à uma boa pregnância das formas ou boa forma - qualidade que determina a facilidade com que percebemos figuras bem formadas e confere constância perceptiva, que nada mais é do que a estabilidade de nossa percepção.

Além das leis e conceitos expostos neste tópico, existem princípios que interferem de maneira determinante no nosso processo perceptivo. Pedrosa (1996) salienta os princípios, que são: simetria, em que uma forma é tanto mais pregnante quantos mais eixos de simetria possuir; e memória, que entende que formas são melhor percepcionadas quanto mais vezes tiverem sido apresentadas à percepção anteriormente. No que diz respeito ao último princípio, Viana destaca que a

[...] experiência passada está relacionada com o pensamento pré-Gestáltico, que via nas associações o processo fundamental da percepção da forma. A associação aqui sim é imprescindível, pois certas formas só podem ser compreendidas se já a conhecermos, ou se tivermos consciência prévia de sua existência. Da mesma forma, a experiência passada favorece a compreensão metonímica: se já tivermos visto a forma inteira de um elemento, ao visualizarmos somente uma parte dele reproduziremos esta forma inteira na memória. (VIANA, 2009, p. 28).

Diante desse panorama, é oportuno entender que o repertório visual e cultural de um profissional da área de Design, ou seja, seu registro de memórias, é o que irá diferenciar seu trabalho dos demais, ainda que o conhecimento sobre o estilo de vida do público para o qual se dirige os projetos seja determinante para a coerência e sucesso dos profissionais. Aspectos relacionados aos simbolismos, inerentes aos objetos e figuras que observamos, também precisam ser considerados, pois, de fato, se pautam na vertente psicológica presente no nosso mecanismo perceptivo.

Nesse sentido, é importante ressaltar que a psicologia é um aspecto importante do trabalho de Design, porque tudo trata de emoção e percepção. O Designer tem que construir o seu produto com base nas necessidades-alvo e na emoção, para criar um sentimento e, também, com base em padrões sociais.

A Gestalt pode realmente ajudar a focalizar a atenção e organização de conteúdos de uma forma eficaz. “[...] Como designer, é realmente importante entender como as pessoas percebem um projeto visual e tirar vantagem dessas regras”. (ANDRADE, 2016).

Ao pensarmos na teoria da Gestalt, necessitamos ter em mente que o que vemos e percebemos sobre algo, antecede uma intencionalidade daquele que o criou. Além disso, é preciso saber que o espaço/lugar no qual os objetos estão inseridos e expostos, bem como a situação/momento em que nos deparamos com determinadas criações, influenciam no nosso entendimento. A maneira como fomos educados, as convenções históricas, sociais e culturais, o jeito como nos relacionamos com os ambientes e pessoas, como percebemos e conferimos a dimensão do gosto para com as coisas, produzem em nosso sistema perceptivo visual interpretações únicas, mas que podem ser previstas se estudarmos em profundidade as leis da forma (Gestalt), o estilo de vida e o desejos dos futuros usuários.

Entendendo o Design como uma atividade de pesquisa, planejamento e projeto, consideramos, por fim, que o conhecimento e a experimentação estratégica das nossas concepções criativas conferem relevância à nossa atividade. O Design, ou melhor, o verdadeiro Design, faz a diferença.

Fechamento

Conforme aprendemos, as leis de organização da Gestalt são excepcionalmente importantes para entendermos a nossa concepção. Vivemos cercados por muitos estímulos visuais: propagandas, marcas, embalagens, enfim, uma infinidade de materiais que atraem nossos olhares. O objetivo é prender a atenção, sobressair e convencer o público com o material mais interessante e criativo.

Esse estudo nos permite encontrar meios para garantir esse sucesso, manipular a composição dos elementos básicos e desenvolver um bom trabalho dentro das leis da Gestalt. Mantendo sempre cuidado nas criações e nos preocupando com o sentido e intenções que pretendemos alcançar, nem todos possuem o mesmo entendimento sobre uma composição, as experiências que possuímos, o repertório que estamos condicionados certamente levará nossa mente a relacionar aquilo que estamos habituados.  

Organizamos os estímulos de maneira que a composição tenha sentido atendendo a diferentes princípios das leis. A explicação é que para a interpretação alcançar uma conclusão mais acessível, o cérebro precisa simplificar o que percebe.

Nesta aula, você teve a oportunidade de:

  • entender como funciona os princípios da lei Gestalt;
  • conhecer e aplicar as leis para entendimento e desenvolvimento de materiais;
  • compreender os conceitos de significação de forma, cores e texturas organizadas pelo cérebro para criar significação.

Vídeo

Para complementar o seu aprendizado, assista à videoaula a seguir:

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