Existe uma variedade de linguagens utilizadas na comunicação com o mundo e com as pessoas, por isso, é necessária uma organização de técnicas, processos e métodos. Neste estudo, vamos destacar a linguagem visual.
Estamos constantemente cercados por imagens, ilustrações, registros, criação. Temos contato com essas informações de muitas maneiras. Nossos conhecimentos e entendimentos do mundo em que vivemos afetam o que vemos.
A imagem como mensagem é importante dá sua contribuição, fazendo-se tão necessária quanto a mensagem verbal; ela pode apresentar níveis diferentes de interpretação (simbólicos ou abstratos) dependendo do criador ou do olhar do observador.
Praticamente tudo o que os nossos olhos veem é comunicação visual: uma nuvem, uma flor, um desenho técnico, um sapato, um cartaz, uma libélula, uma bandeira – Imagens que, como todas as outras, têm valor diferente segundo o contexto em que estão inseridas, dando informações diferentes.
Fonte: Munari (2001, p. 65).
É importante saber sobre o surgimento das imagens, quais são e como podem ser aplicados os elementos que fazem parte da formação, e como formar imagens complexas com elementos simples.
Ao final desta aula, você será capaz de:
Para repassar uma mensagem, o ser humano precisa organizar sinais, expressões, formas, olhares, luzes, cheiros, cores, sons, gestos e objetos. Essa ordenação acontece por intermédio dos vários sistemas de linguagem que empregamos para codificar, armazenar e decodificar informações. Existe uma diversidade de sinais que associam conceitos e se organizam em sistemas sociais e históricos de representação de mundo e de comunicação social.
Para Couto (2000), as linguagens envolvem uma ordenação indispensável no aprendizado humano; por intermédio delas são processados meios de construção do pensamento, representações e criações de signos e sistemas simbólicos. É um recurso da comunicação que armazena e transmite informações.
Os gregos procuravam a beleza na realidade. Glorificavam o homem e seu ambiente natural. Apreciavam o pensamento. Seus esforços produziram um estilo visual dotado de racionalidade e lógica tanto na arte quanto no Design (DONDIS, 2007, p. 174).
No complexo desenvolvimento da linguagem, podemos identificar muitas técnicas, processos e métodos que captam o uso de elementos que auxiliam na criação de inúmeros meios de comunicação.
As linguagens são recursos expressivos de representação da realidade e de comunicação. Elas funcionam como veículo para o intercâmbio de ideias e forma de interlocução. Portanto, é ilusória a exclusividade da linguagem verbal como forma de linguagem e meio de comunicação privilegiados. Essa ilusória exclusividade se deve muito intensamente a um condicionamento histórico que nos faz crer que as únicas formas válidas de conhecimento e interpretação do mundo são aquelas veiculadas pela língua na sua manifestação como linguagem verbal, oral e escrita, e que essa linguagem é o meio mais apropriado para chegar a uma forma de pensamento superior. O saber analítico que a linguagem verbal permite conduziu à legitimação consensual e institucional de que essa é a linguagem de primeira ordem, em detrimento e relegando para uma segunda ordem todas as outras linguagens, as linguagens não verbais. (COUTO, 2000, p. 11-12)
A linguagem verbal (oral) é apresentada como principal forma de informação e conhecimento, porém, sabemos que, além dela, que é estruturada por sons, e além da linguagem escrita, que é estruturada pelo sistema linguístico, existe uma variedade enorme de outras linguagens, e entre elas está a linguagem visual, que estrutura conceitos e se constitui como sistemas sociais e históricos de representação e comunicação.
No entanto, há uma busca infindável por encontrar maior eficácia comunicacional. Isso não significa excluir a linguagem verbal, uma vez que a comunicação visual não consegue uma lógica tão precisa como a linguagem verbal, mas busca o desenvolvimento de novos meios e contextos. Pela necessidade de interagirmos uns com os outros somos capazes de produzir e atuar de diferentes maneiras; assim as linguagens não verbais de interpretação de mundo também invadem espaço em nosso cotidiano e não devem ser vistas como secundárias: merecem ser conhecidas, estudadas e discutidas. Cada uma transmite sua mensagem utilizando recursos particulares. As múltiplas linguagens estão disponíveis para comunicação.
Devemos buscar essa comunicação visual em muitos lugares e de inúmeras maneiras, com métodos conceituais ou simples. Há elementos básicos que podem ser aprendidos e compreendidos por todos os estudiosos dos meios de comunicação visual, sejam artistas ou não, e que podem ser usados em conjunto com técnicas manipulativas para a criação de mensagens visuais muito claras. O conhecimento de todos esses fatores pode levar a uma melhor compreensão das mensagens visuais (DONDIS, 2007).
Linguagem verbal é uso da escrita ou da fala como meio de comunicação.
Linguagem não-verbal é o uso de imagens, figuras, desenhos, símbolos, dança, tom de voz, postura corporal, pintura, música, mímica, escultura e gestos como meio de comunicação.
A linguagem é simplesmente um artifício de comunicação próprio do homem, que evolui desde uma forma auditiva, pura e primitiva até a capacidade de ler e escrever.
Essa mesma evolução ocorre com todas as capacidades humanas envolvidas na visualização; dentro dessa evolução há um planejamento no desenho, na criação de objetos e símbolos até a criação de imagens.
Os sistemas de símbolos que chamamos de “linguagem” são invenções ou refinamentos do que foram, em outros tempos, percepções do objeto dentro de uma mentalidade despojada de imagens.
Com o interesse de obter soluções visuais, a livre experimentação constitui um dever de qualquer artista ou designer que parta da folha em branco com a meta de chegar à conclusão de um projeto visual. O mesmo não se aplica ao fotógrafo, cineasta ou ao câmera, pois seu trabalho visual básico é composto pela informação realista detalhada, ficando inibida, portanto, em todo aquele que pensa em termos de filme, a investigação de um pré-projeto visual.
Vivemos em um mundo dominado pela informação, que dispõe de grande poder e de variadas interpretações de acordo com as características (sociais, psicológicas, dentre outras) do indivíduo que as interpreta. Essa interpretação é resultado do conhecimento de cada indivíduo, ou seja, o que vemos é parte fundamental do que sabemos.
Dispomos de muitos sistemas de trabalho para o estudo e a análise dos componentes das mensagens visuais (DONDIS, 2007).
Quando falamos em linguagem visual, transportamos nossa imaginação para tudo que pode ser visualizado: o que era imaginário e ainda não existia pode ser expressado por algum meio visual. Assim, abrimos uma janela de comunicação que pode ser apreciada de muitas formas e por uma infinidade de áreas de atuação.
A imagem visual pode ser comunicada pela arte, pelo design gráfico, pela fotografia, pela ilustração e pela materialização, enfim, por uma linguagem que constitui uma maneira de comunicação.
O sentido da visão é alvo todos os dias de uma diversidade de imagens com muitas informações. A televisão e o computador são grandes propagadores de imagens, além das inúmeras cenas que observamos nas ruas, em placas, propagandas e anúncios.
Esses meios de comunicação transferem ao observador uma variedade de figuras, o que não acontecia há algumas décadas. Hoje, imagens reais, virtuais e artísticas fazem parte do cotidiano, e as artísticas diferem das demais por serem uma representação visual que utiliza em sua produção uma técnica específica.
Durante o século XX, assistimos a uma transformação significativa nos meios de comunicação modernos: a mensagem visual tem predominado sobre a mensagem verbal, e a maior parte das coisas que sabemos, aprendemos, acreditamos, reconhecemos e desejamos quase sempre é determinada pelo domínio que a imagem exerce sobre nós. (COUTO, 2000, p. 32)
Observamos que as imagens estão progressivamente mais presentes, as linguagens verbais e não verbais interagem para alcançar a atenção do espectador, a imagem visual consegue ir além das palavras e atingir um grande número de pessoas. Nas casas, a maioria das pessoas possui computadores, televisores, utiliza quadros, fotografias... As imagens ganham influência crescente sobre as pessoas e seu meio.
Refletindo a influência que as imagens têm sobre a humanidade, é preciso compreender por intermédio de quais regras ou conceitos elas se constituem. O alfabetismo visual torna possível o estudo da linguagem visual, viabilizando uma relação essencial na concepção de uma imagem, permitindo entendimento daquilo que é apresentado à nossa visão.
A imagem visual é indispensável para a necessidade básica de registrar, reproduzir, preservar, identificar pessoas, lugares e objetos ou mesmo expressar sentimentos, como é o caso das artes. Seja em ações cotidianas ou em concepções elaboradas, o formato visual busca informar o observador, e por esse motivo é necessário que ele seja conhecido e explorado.
Dondis recomenda a socialização da linguagem visual para além dos especialistas, pois a ideia do alfabetismo visual apresenta a expansão da capacidade visual, possibilitando expressar e receber dados visuais em três níveis.
Expressamos e recebemos imagens visuais em três níveis: o representacional – aquilo que vemos e identificamos com base no meio ambiente e na experiência; o abstrato – a qualidade sinestésica de um fato visual reduzido a seus componentes visuais básicos e elementares, enfatizando os meios diretos, emocionais e mais primitivos da criação de mensagem, e o simbólico – o vasto universo de sistemas de símbolos codificados que o homem criou arbitrariamente e ao qual atribuiu significados. (DONDIS, 2007, p. 85)
Os três níveis de expressão e recepção de imagens atuam como resgate de conhecimento. Mesmo estando interligados e sobrepostos, é possível determinar distinção entre eles viabilizando a análise do seu potencial para a elaboração de mensagens no que se refere à qualidade no processo da visão. Falaremos sobre isso a seguir.
O sentido da visão contribui para a compreensão do mundo. Por intermédio dele aprendemos, aprimoramos e identificamos o material visual que recebemos; ele permite que o ser humano se relacione com tudo que se apresenta à sua volta e, na maior parte dos casos, o processo de aprendizagem ocorre pelo visual.
Segundo Dondis, a representação da informação visual natural é imprescindível a todos – deve ser ensinada e pode ser aprendida –, contudo, é preciso observar que não utiliza um sistema estrutural como a linguagem verbal. Assim, dentre todos os meios de comunicação, o visual é o único que não faz uso de um conjunto de normas e preceitos nem de um sistema de critérios totalmente definidos. Vemos e compreendemos aquilo que enxergamos.
Não há regras absolutas: o que existe é um alto grau de compreensão do que vai acontecer em termos de significado se fizermos determinadas ordenações das partes que nos permitam organizar e orquestrar os meios visuais.
Podemos reproduzir as imagens ao nosso redor – a dificuldade está em como isso pode ser feito: de que maneira a comunicação visual pode ser entendida, captada, expressada. Temos a capacidade de reconhecer uma imagem, entretanto, a forma como ela é compreendida e absorvida se diversifica. Isso varia de pessoa para pessoa. Alguns observadores permanecem no nível primário enquanto outros não se satisfazem com o óbvio e conseguem ver além do que está sendo apresentado.
Podemos observar que recebemos e expressamos informações visuais em níveis muito diferentes conforme o emissor e o receptor. Essa comunicação por intermédio da imagem passa por interpretação, simbolismo e abstração. No nível de interpretação, a realidade surge como experiências visuais indispensáveis e predominantes. Dondis (2007, p. 87) apresenta um exemplo que usa o símbolo pássaro comparando nosso registro visual com o de uma câmera.
Um pássaro pode ser identificado através de uma forma geral, e de características lineares e detalhadas. [...] A ideia geral de um pássaro com características comuns avança até o pássaro específico através de fatores de identificação cada vez mais detalhados. Toda essa informação visual é facilmente obtida através dos diversos níveis da expressão direta do ato de ver. Todos nós somos a câmera original: todos podemos armazenar e recordar, para nossa utilização e com grande eficiência visual, toda essa gama de informações visuais. As diferenças entre a câmera e o cérebro humano remetem à finalidade da observação e à capacidade de reproduzir a informação visual.
A autora entende a fotografia como a representação que mais se aproxima da visão, lembrando que a experiência direta através da expressão visual passa pelo processo de interpretação individual. Até chegar ao observador, a mensagem passa por diferentes graus de intenção e significado. A televisão, o cinema, pinturas e desenhos também interpretam a realidade. As pinturas podem refletir a realidade: além de desenvolver uma imagem, elas registram e fornecem dados. Todo artista transpõe no papel dados que oferecem valor e referência.
Todos esses meios visuais conseguem repassar a ideia de “pássaro”, e cada um à sua maneira consegue atingir o observador. A fotografia é, sem dúvida, a que mais se iguala à realidade. Contudo, Dondis (2007) argumenta que as imagens elaboradas por artistas são mais limpas e claras, tendo em vista que eles manipulam e controlam suas produções. Esse seria o início de um processo de abstração que deixa de lado traços sem relevância e destaca traços distintos.
É interessante ressaltar que os símbolos geralmente não aparecem isolados, mas unidos uns aos outros, dando lugar às composições simbólicas. Sendo assim, “quando dois símbolos expressam as mesmas ideias ou se inter-relacionam, eles tendem a se amalgamar ou se combinar, produzindo, como consequência, um outro símbolo”.
Fonte: D’Alviella (1995, p. 145).
No processo de abstração, dispomos a limitação dos fatos visuais múltiplos a seus traços simplificados e indispensáveis daquilo que está sendo representado, ignorando os detalhes estáticos e o acabamento rigoroso. A subtração dos detalhes até chegar à subjetividade total pode percorrer dois caminhos.
A abstração voltada para o simbolismo, às vezes com um significado identificável, outras vezes com um significado arbitrariamente atribuído, e a abstração pura, ou redução da manifestação visual aos elementos básicos, que não conservam relação alguma com qualquer representação representacional extraída da experiência do meio ambiente. (DONDIS, 2007, p. 91).
Para a autora, a abstração simbólica requer simplificação, redução do detalhe visual a seu mínimo. O símbolo, para ter eficiência e ser compreendido e relatado, precisa ser lembrado e reproduzido, podendo manter algumas características reais. Vamos retornar ao exemplo do pássaro: ele pode ser representado com traços simples, sem os detalhes de uma fotografia, e continuará sendo um pássaro. Para transferência de informações, os símbolos podem ser simples ou complexos como o código; a escolha depende do objetivo, do grupo que se pretende alcançar.
O alfabetismo visual enfrenta problemas não muito diferente dos encontrados no alfabeto verbal. Quando nos referimos à alfabetização, sabemos que, infelizmente, o que deveria alcançar a todos acaba sendo privilégio de alguns. No campo da arte visual pode-se dizer que todos enxergam, entendem e são capazes de identificar imagens, porém, o alfabetismo visual vai além do simples enxergar e identificar uma criação de imagens óticas. “O alfabeto visual implica discernimento, e meios de ver e compartilhar o significado em nível de universalidade. A realização disso exige que se ultrapassem os poderes visuais inatos do organismo humano” (DONDIS, 2007, p. 227).
Em todos os estímulos visuais e em todos os níveis da inteligência visual, o significado pode encontrar-se não apenas nos dados representacionais, na informação ambiental e nos símbolos, inclusive na linguagem, mas também nas forças compositivas que existem ou coexistem com a expressão factual e visual. Qualquer acontecimento visual é uma forma com conteúdo, mas o conteúdo é extremamente influenciado pela importância das partes constitutivas, como a cor, o tom, a textura, a dimensão, a proporção e suas relações compositivas com o significado. (DONDIS, 2007, p. 22)
Para o alfabetismo visual ser alcançado, incontáveis conceitos precisam ser conhecidos, o que é um trabalho complexo. Não é suficiente decorar os princípios visuais para aplicá-los a uma composição ou reconhecê-los em uma imagem, como acontece na alfabetização verbal. Mesmo sendo simples, as unidades visuais precisam ser exploradas, aprendidas e aprimoradas em suas qualidades, e isso passa por um processo demorado.
Os resultados das decisões compositivas determinam o objetivo e o significado da manifestação visual e têm fortes implicações com relação ao que é recebido pelo espectador.
Fonte: Dondis (2007).
Refletindo sobre os relatos de Dondis, percebe-se que o método visual pode ser acessível a todos ou conceituado como inteiramente fora do alcance de pessoas sem talento. Esse entendimento se reforça por uma carência de metodologia e imersão profunda nos elementos e técnicas que possibilitem o alfabetismo visual – contudo, é preciso disposição para percorrer esse processo lento e gradativo, mas necessário à evolução da competência em termos de informação visual.
“O significado visual, tal como é transmitido pela composição, pela manipulação dos elementos e pelas técnicas visuais, implica uma enorme somatória de fatores e forças específicas. A técnica fundamental sem dúvida é o contraste”.
Fonte: Dondis (2007, p. 137).
Neste estudo apresentamos a mensagem visual como uma das principais fontes de informação da atualidade. Essas mensagens estabelecidas por imagens são constituídas por elementos gráficos que podem ser conhecidos e aprendidos por todos através de um alfabetismo visual no qual se apresentam elementos básicos. Com os fundamentos junto à técnica, temos inúmeras possibilidades de composições. Os resultados dessas combinações dependem do objetivo que a mensagem pretende alcançar.
Concluímos, portanto, que a comunicação é uma ferramenta de sobrevivência para o ser humano, para a transmissão e troca de informações, sendo indispensável para a vida em sociedade. Nesse processo de comunicação mencionamos uma variedade de recursos de aplicação.
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