A linguagem é uma das formas de apreensão de comunicação de todas as coisas que nos cercam. São diferentes recursos que, conforme os objetivos do emissor, dão ênfase à mensagem transmitida, expressam as intenções dos falantes da língua e representam as variadas formas da comunicação linguística, cada qual abordando um diferente elemento da comunicação.
Durante este estudo vamos conhecer cada um desses elementos e suas funções; com o conhecimento dessas ferramentas podemos utilizar corretamente a linguagem aplicada dentro do objetivo que buscamos alcançar em cada situação do nosso cotidiano. Convido você a conhecer esses elementos e suas funções. São eles: referente, emissor, receptor, canal, mensagem e código.
Ao final desta aula, você será capaz de:
As mensagens transmitem significados variados no processo de comunicação; o emissor pode utilizar recursos que façam com que essa mensagem seja compreendida por meio da aplicação de um elemento linguístico em sua composição, apontando, na sua marca, traço e no seu efeito, a sua funcionalidade.
De acordo com Carboni (2008, p. 51):
Jakobson sempre foi partidário da necessidade de abrir a Linguística Geral ao campo dos processos de significação. A partir de modelo teórico elaborado pela Teoria da Comunicação, deduziu que a cada um dos componentes que o ato de comunicação põe em jogo – emissor, receptor, canal, código, referente, mensagem – corresponderia uma função de linguagem – expressiva, conotativa, fática, metalinguística, referencial, poética – e diversos processos gramaticais e estilísticos. Essas funções que se tornaram percurso tradicional das disciplinas de linguística dos cursos de Letras foram, mais tarde, objeto de muitas críticas. (CARBONI, 2008, p. 51)
A atividade da mensagem ocorre com a finalidade de conduzir o processo comunicacional: o emissor destina a mensagem ao receptor, utilizando o código para cumpri-la com referência a um contexto, a fim de que a mensagem seja compreendida.
A travessia da emissão para a recepção é feita por meio do suporte físico denominado canal.
Estes são, portanto, os fatores que sustentam o modelo de comunicação: emissor – que emite, codifica a mensagem; receptor – que recebe a mensagem, decodifica a mensagem; canal – meio pelo qual circula a mensagem; código – conjunto de signos usado na transmissão e recepção da mensagem; referente – contexto relacionado a emissor e receptor; mensagem – conteúdo transmitido pelo emissor (CHALHUB, 1995).
Contudo, não foi sempre assim. O psicólogo austríaco Karl Bürhler propôs esse modelo de maneira triádica, tendo como base três fatores como caráter instrumental da linguagem: o remetente (mensagem de caráter expressivo), o objeto do discurso (mensagem de caráter comunicativo) e o destinatário (mensagem de caráter apelativo).
Roman Jakobson (2010), no ensaio “Linguística e Poética”, intensifica esse modelo de três para seis, complementando o modelo de Karl Bürhler. Jakobson (2010) evidencia a descrição da mensagem de acordo com a orientação que ela traz como fator da comunicação (CHALHUB, 1995).
Assim, concede-se sentido, possibilita-se a interpretação que se possa concluir e verificar na mensagem, localizando, na direção intencional do fator da comunicação que determina o perfil da mensagem, sua função, ou seja, a função de linguagem que marca aquela informação.
Todo texto apresenta em seu processo de comunicação várias possibilidades de leitura; as funções têm o objetivo de criar meios para seu entendimento. Falaremos mais sobre funções da linguagem e suas referências.
Em uma única mensagem podem estar presentes vários tipos de linguagem, possibilitando o uso do código. Embora haja uma função que predomine, as demais dialogarão em contribuição, e no conjunto teremos uma classificação das funções da linguagem.
Diariamente na comunicação fazemos uso da referência da linguagem, o que rapidamente torna a mensagem oral entendida por meio da narrativa ou de um diálogo com alguém.
O diálogo é uma maneira tradicional de interação verbal e pode exercer algumas funções, como:
O que: referente
Para falar da função referencial, vamos observar dois níveis de linguagem: conotativo e denotativo.
"Numa mesma mensagem [...] várias funções podem ocorrer, uma vez que, atualizando corretamente possibilidades de uso do código, entrecruzam-se diferentes níveis de linguagem, A emissão, que organiza os sinais físicos em forma de mensagem, colocará ênfase em uma das funções, e as demais dialogarão em subsídio [...].
Fonte: Chalhub (1995, p. 9).
O conotativo é assimilado como “linguagem figurada” ou de “sentido figurado”, cujas expressões e palavras ganham um novo significado; ele modifica o sentido literal do que realmente as palavras querem dizer, ressignificando-as. Se falamos “pé da cadeira”, estamos nos referindo à semelhança entre o signo “pé que está no campo do organismo humano e o traço de sustentação da cadeira que se encontra no campo dos objetos. O signo empresta sua significação para dois campos distintos, assim a linguagem “figura” o objeto que sustenta a cadeira com uma referência ao pé humano, e essa relação se dá entre signos.
O denotativo trata de uma ligação mais direta, do sentido real entre o termo e o objeto; é uma “linguagem literal”, ou de “sentido literal”, ou seja, sentido com significado. O olho do animal e o olho humano, por exemplo, seriam signos denotativos: a palavra real sem figuração.
A linguagem denotativa é comumente utilizada na produção de textos de reportagens, livros científicos, editoriais, manuais, entre outros. Nesses gêneros textuais as palavras são utilizadas para fazer referência a ações, fatos e conceitos em seu sentido literal.
A função referencial denotativa fica centralizada no referente. O emissor transfere a informação da realidade fazendo menção direta e clara sobre o nome e a coisa (signo e objeto), uma vez que na função referencial conotativa a informação é transferida baseando-se no mundo fenomênico das coisas.
Fonte: Chalhub (1995).
Segundo Jakobson (2010), organizar os signos é um trabalho imperante de numerosas mensagens em função do referente. A mensagem referencial tem como objetivo principal informar, referenciar gerando dados definidos, claros, com transparência e sem imprecisão.
Utilizando a comunicação direta como forma de linguagem, nosso cotidiano é instrumentado quando mencionamos as ocorrências que nos rodeiam quando conversamos: sem notar, construímos mensagens de uso automatizado, sem ruídos de comunicação.
Podemos citar como características da mensagem referencial: objetividade; ênfase na informação; conhecimento e esclarecimento; linguagem denotativa; uso da terceira pessoa do discurso.
A mensagem referencial está ligada a uma linguagem de caráter impessoal, que informa a respeito de algo sem envolver um aspecto emotivo na linguagem. Como exemplo, podemos citar artigos científicos, documentários e jornais, entre outros.
Quem: emissor em detalhes.
Na função emotiva a ênfase está em quem produz a informação.
O emissor é aquele que exerce o papel de transmitir emoções e sentimentos por meio de sua própria experiência e opinião; assim, as mensagens são subjetivas; os relatos geralmente estão na primeira pessoa, pois a mensagem tem caráter pessoal; não precisa ser de fácil entendimento e nem ter muita clareza, pois a produção é feita para o “emissor”
Podemos destacar como características da função emotiva: subjetividade; visão intimista; unilateralidade; impressões pessoais do emissor, opinião e relatos pessoais. Essa função utiliza a 1ª pessoa do discurso; há presença de interjeições e uso de pontuação que acentua a entonação emotiva, como reticências, ponto de exclamação etc.
A função emotiva é característica das obras literárias e possui como marca o sentido conotativo das palavras. No poema, o emissor descreve sua emoção, ânimo e sentimentos. É um discurso geralmente baseado no “eu”. O foco das palavras ou do texto como um todo tem toda a atenção voltada para o emissor. Como exemplo, podemos citar poemas, depoimentos, autobiografias, cartas pessoais, relatos de memórias, músicas.
Eu sei que vou te amar
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
Intérprete: Tom Jobim/Composição: Tom Jobim e Vinicius de Moraes
A função conativa ou apelativa acontece quando a mensagem está voltada para o receptor; todos os esforços e interesses possuem caminho certo para atingir um alvo.
A palavra “conativa” tem sua origem no termo latino conatum, que significa tentar influenciar alguém por meio de um esforço: uma ação verbal do emissor para se fazer notar pelo destinatário, uma ordem, exortação, chamamento ou invocação, saudação ou súplica (CHALHUB, 1995).
O emissor tem como objetivo seduzir, atrair o leitor. Suas expectativas estão sobre aquele que recebe a mensagem. Toda a ênfase dessa função tem o objetivo de alcançar a atenção do espectador, e por esse motivo é comum encontrar nesses textos verbos no imperativo, dando uma ordem (use isso, compre isso, vote em mim). As orações optativas estão sempre relacionadas com frases que despertam desejo; elas fazem referências diretas ao receptor (você não pode perder essa oportunidade.) e utilizam a 2ª ou a 3ª pessoa do discurso, recorrendo a pontos de exclamação para enfatizar a mensagem.
Mediante esforços para convencer o receptor de algo, a função conativa usará como ferramenta traços de argumentação. Na linguagem da propaganda, as mensagens construídas visam essencialmente atingir o receptor. Possuem, no seu ato de configuração dos signos, características da função poética para sensibilizar o público pela beleza da argumentação. Por trás da mensagem publicitária há sempre o imperativo do consumo da mercadoria, diferentemente da função estética da arte, que não visa atrair para fins de consumo. A publicidade apropria-se, para formulação de sua linguagem, dos níveis gráfico, visual e sonoro dos signos, conforme o canal que medeia a informação: outdoor, revista, televisão, rádio e outros (CHALHUB, 1995).
Segundo Chalhub, não podemos nos esquecer de que uma mensagem, seja qual for o conteúdo, envolve diferentes funções em diálogo. Uma das funções determinará esse perfil, mas as outras complementam, articulam, dialogam, relacionam diferentes níveis de linguagem em uma mesma mensagem, como falamos acima.
Ela pode descrever uma mensagem de configuração emotiva, mas a consciência de possuir um receptor nas articulações de linguagem implica que a função conativa também pode conectar-se com a poética e com a metalinguística. A função conativa é também muito utilizada em livros didáticos, manuais, bulas de remédio, livros de autoajuda e textos publicitários.
A função fática tem ênfase no emissor e no receptor; seu principal objetivo está em estabelecer ou interromper a mensagem; seu foco reside no canal de comunicação.
Quando a mensagem está centrada no contato, no suporte físico, no canal, trata-se de uma função fática. O intuito desse tipo de mensagem é testar o canal, reafirmar a comunicação, mas não no sentido de efetivamente informar significados. São repetições ritualizadas, quase ruídos, balbucios, gagueiras, cacoetes de comunicação, fórmulas vazias, conversações sociais, de superfície, testando a própria comunicação (CHALHUB, 1995).
O empenho em iniciar e manter a comunicação é típico das aves falantes; dessarte, a função fática da linguagem é a única que partilham com os seres humanos. É também a primeira função verbal que as crianças adquirem; elas têm tendências a comunicar-se antes de serem capazes de ouvir ou receber comunicação informativa.
Fonte: Jakobson (2010).
Em “A Linguística em suas relações com outras ciências”, o autor destaca que, devido ao papel basilar que a linguagem desempenha no quadro da cultura, “o problema das inter-relações entre as ciências do homem parece centrar-se na linguística” (p. 13). Assim, num discurso de “cooperação interdisciplinar”, ainda que considerando a Linguística como ponto de partida para uma ordenação das ciências humanas, Jakobson (2010, p. 18) admite ser possível interpretar diferentes concepções “como dois modos verdadeiros, porém parciais, que se defrontam em uma relação seguramente definida como complementaridade”.
Fonte: Jakobson (2010, p. 12-18).
Esse tipo de função, além de estabelecer e interromper a comunicação, é utilizada para saber se o receptor está entendendo a informação da mensagem, prestando atenção na fala do emissor e para o receptor da mensagem informar sua compreensão (Não é mesmo? Você me entende? Aham...). A função fática recorre a frases interrogativas para obter respostas do outro, e utiliza interjeições e onomatopeias para manter o discurso.
O emissor, ao codificar signos que serão o objeto do seu trabalho, utiliza o suporte físico – o canal –, pretendendo que a mensagem, assim organizada, seja recebida e decodificada pelo receptor. Dessa maneira, estão formados os elementos mínimos de um processo comunicacional, em que emissor, mensagem, receptor, canal e referente compõem um conjunto – uma linguagem (CHALHUB, 1995).
A função fática geralmente é utilizada em cumprimentos, saudações, conversas telefônicas. Alguns exemplos são:
Alô?
Bom dia!
Sei...
Ok?
Como o próprio nome declama, essa é a função de linguagem da poesia.
Segundo Chalhud (1995), uma das atualizações discursivas da linguagem é a sua configuração poética, quando o fator principal é a mensagem, com uma maneira muito particular de se apresentar. O que temos em primeiro lugar é, podemos dizer, a realidade da palavra no que ela tem de concreto. E qual é a realidade sensível e concreta da palavra?
Nessa função, o principal elemento comunicativo é a mensagem; o emissor atenta para a maneira que a mensagem será transmitida. Há uma seleção na escolha das palavras, das expressões, das figuras de linguagem.
O objetivo do emissor é expressar seus sentimentos em textos bem estruturados, enfatizando as formas das palavras, com elaboração de signos linguísticos, ritmo, sonoridade.
O destaque é a própria mensagem, portanto o emissor se preocupa com o resultado estético.
A função poética caracteriza-se pelo uso de metáforas, da linguagem figurada e de rimas. É a função mais comum em textos literários, músicas, poemas, propaganda e publicidade, ditados e provérbios.
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito cala;
Quem quer dizer o quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
(Fernando Pessoa)
A função metalinguística está centralizada no código. A linguagem fala de si mesma.
Uma das características dessa função é usar o código como tema da mensagem, aplicando uma narrativa explicativa em seus relatos.
Uma mensagem de nível metalinguístico implica que a seleção opera no código usando o próprio código. É necessário observar que o termo “código” sai do seu território linguístico e assume livremente conotações mais amplas – aliadas à noção de linguagem (CHALHUB, 1995).
Essa linguagem é bem evidente em dicionários e gramáticas, pois neles a palavra explica a palavra, mas também pode ser encontrada em outros tipos de texto, como no poema.
Quando a linguagem se volta sobre si mesma, transforma-se em seu próprio referente.
Conforme vimos durante o estudo deste material, o sistema de comunicação é o que nos permite de alguma forma estar em conexão com o mundo, compreender e ser compreendido pelos outro. É a chave para decifrar o que as pessoas querem dizer, o que nós queremos expressar.
As funções da linguagem são ferramentas que fazem parte dessa comunicação, facilitando nossas atividades pessoais e profissionais. O conhecimento e a aplicação desses elementos no nosso cotidiano reduzem as incertezas e nos permitem elaborar e planejar nossas intenções de maneira a alcançar o objetivo que buscamos quando estabelecemos um canal de comunicação.
Aplicar de maneira correta essas funções nos viabiliza avançar em todas as áreas da comunicação e ser bem-sucedidos no poder de influenciar, inovar, interpretar. Abre-se um leque de opções das quais podemos tirar muito proveito.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
Indicação: Filme Nell
Direção: Michael Apted. Produção Renee Missel e Jodie Foster
Protagonistas Jodie Foster, Liam Neeson e Natasha Richardson
Fox Vídeo
115 min.
O filme conta a história de uma mulher com aproximadamente 30 anos que foi criada na floresta, distante da sociedade e da civilização. Seu contato se resumia à sua mãe e à sua irmã gêmea falecida quando criança. Assim, Nell viveu por 30 anos uma vida simples; tinha um dialeto próprio inspirado na mãe, que apresentava dificuldades na fala por conta de um AVC, e em suas próprias vivências, até conhecer o Dr. Lovell, quando um mundo completamente desconhecido de tudo que vivera até aquele momento lhe foi mostrado.
O filme traz de uma maneira emocionante uma forma de comunicação baseada no repertório que a personagem vivia, e atenta para a forma como ela se baseava nos símbolos que a rodeavam para exercer sua linguagem e comunicação. No filme, Nell expressa seu pensamento por uma linguagem própria: a jovem construiu sua própria cultura. A película é bastante reveladora em sua análise sobre a possibilidade de comunicação, que só ocorre quando a mensagem é entendida.
Podemos citar como aplicação prática da teoria sobre a linguagem verbal e não verbal as vivências cotidianas.
A linguagem verbal é o uso da escrita ou da fala como meio de comunicação,
A linguagem não verbal está associada ao uso de imagens, dança, música, pintura, desenhos, gestos, mímicas. Nesse contexto, a simbologia também é apresentada como forma de linguagem no nosso contexto, como é o caso do semáforo, de placas de sinalizações e indicações, do uso de cores-padrão, entre outros. Ainda podemos citar a sonorização das sirenes, que indicam estado de emergência e fluidez.
É importante observar que a comunicação está ligada a uma linguagem, e não exatamente à fala. Em nosso cotidiano utilizamos a linguagem verbal e não verbal separadamente ou simultaneamente, com palavras, gestos, cores, sons, tom de voz, postura e símbolos.
O objetivo deste estudo é aprofundar a reflexão sobre a comunicação por meio das linguagens verbal e não verbal em uma organização de signos e símbolos capaz de conduzir meios de maior ou menor adequação aos objetivos individuais ou grupais.
Com base nos estudos sobre linguagem verbal e não verbal, pesquisas, coleta de dados e outros fundamentos para um estudo de caso, conclui-se que os recursos considerados pertinentes para que a comunicação se estabeleça e apresente uma aplicação prática dessa teoria precisam estar ligados ao pensamento, à compreensão e ao repertório. O filósofo Wittgenstein diz que pensamento e linguagem e linguagem e pensamento são inexoravelmente relacionados no nível da elaboração intelectual. Contudo, ele ressalva que tudo o que não foi ainda pensado e compreendido não pode ser expresso em linguagem.
Aula Concluída!
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