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Notas

Aula 01


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Introdução

Iniciaremos a aula com informações sobre a origem da Gestalt. Reconhecida por meio de padrões e tendências culturais em que a sua característica é a relação de elementos visuais como um todo, ou seja, podemos definir a Teoria da Gestalt como a percepção de algum elemento não individualmente ou pelas peças que o formam, mas como é percebida em sua totalidade.

Já falamos em outras aulas como os elementos visuais são relacionados diretamente com a forma e suas características visuais, sendo assim, qualquer designer deve conhecer cada técnica e entendê-la para que possa ser aproveitada e aplicada em seus projetos.

Lembre-se sempre que “design é o pensamento que se faz visível” (SALLBASS apud DABNER, 2014, p. 186). Nesse sentido, nada mais pertinente do que estudar como as pessoas, usuários e consumidores percebem o que veem, bem como analisar suas sensações e interpretações - assuntos totalmente relacionados à Gestalt e às Técnicas Visuais Aplicadas.

Ao final desta aula, você será capaz de:

  • conhecer a origem da Gestalt;
  • analisar as sensações e interpretações relacionados à Gestalt;
  • qual é o princípio básico da Gestalt.
Fonte: Andrei Krauchuk / 123RF.

Origem

A Gestalt tem origem no final do século XIX na Alemanha, também chamada “psicologia da forma”. A palavra Gestalt tem origem germânica, no seu sentido mais amplo, significa uma integração de partes em oposição à soma do todo (GOMES FILHO, 2009). Também é conhecida como “Gestaltismo” ou “Boa Forma”, termo utilizado em Desenho Industrial.

Considera-se que o filósofo Christian von Ehrenfels foi precursor, mas seu início efetivo aconteceu por volta de 1910, na Alemanha, por meio de Max Wertheim, Wolfgang Kohler e Kurt Koffka (GOMES FILHO, 2009). O gestaltismo é uma escola de psicologia que estuda os fundamentos da percepção humana e as bases de sua estrutura mental (COLIN, 2000).

SAIBA MAIS

Cabe acrescentar que, como curiosidade, o termo Gestalt se generalizou dando nome ao movimento. No seu sentido mais amplo significa uma integração de partes em oposição à soma do todo.

Fonte: Adaptado de Gomes Filho (2009).

Gomes Filho (2009) refere-se à teoria que estuda os fenômenos da percepção humana, agrupa algumas formas ou elementos de acordo com sua percepção visual, sempre buscando a melhor forma de configuração mental. Ainda em seu livro, “Gestalt do Objeto”, o autor relata que o que as pessoas veem com seus olhos (imagem na retina) não é uma simples imagem, figura ou objeto, mas algo que envolve fatores psicológicos de organização da forma em seu cérebro. Assim:

[...] o movimento gestaltista atua principalmente no campo da teoria da forma, com contribuição aos estudos de percepção, linguagem, inteligência, aprendizagem, memória, motivação, conduta exploratória e dinâmica de grupos sociais. Por meio de numerosos estudos e pesquisa experimentais, os gestaltistas formularam suas teorias acerca dos campos mencionados. A teoria da Gestalt, extraída de uma rigorosa experimentação, vai sugerir o porquê de algumas formas agradarem e outras não. Essa maneira de abordar o assunto vem opor-se ao subjetivismo, pois a psicologia da forma se apoia na fisiologia do sistema nervoso, quando procura explorar a relação sujeito-objeto no campo da percepção (GOMES FILHO, 2009, p. 18).

A inércia visual de uma forma depende, também, da geometria e sua orientação em relação ao plano de base, à atração da gravidade e a nossa linha de visão (CHING, 2002).

ENTENDA O CONCEITO

Para cada produto existe uma forma mais adequada à sua função e é nesta busca da forma pela função que o designer trabalha. Essa citação revela o princípio fundamental do design de produto.

Fonte: Munari (1983).

Qual é o Princípio Básico da Gestalt?

A psicologia da Gestalt ressalta que o cérebro organiza espontaneamente informações visuais em padrões.

[...] quando me referi a experiência objetiva, chamei, repetidas vezes a atenção para o fato de que as coisas, seus movimentos e suas mudanças se apresentam como fora ou diante de nós. Ao mesmo tempo, salientei que a experiência objetiva, depende de processos cerebrais. Como poderá, então, essa experiência aparecer diante de nós? É indiscutível que, em certas condições, um som pode parecer localizado em nossa cabeça, mas a árvore, que se encontra acolá, é vista, sem sombra de dúvida, como algo distante, e a janela embora muito mais próxima, está, incontestavelmente, fora de nós. Do ponto de vista funcional, contudo, a existência desses objetos visuais é uma questão de processos que ocorrem em nosso cérebro, e portanto, em nós. As mais simples considerações fisiológicas provam tal coisa (KOHLER, 1980, p. 21).

A teoria básica da Gestalt é que, ao visualizarmos um objeto, o inteiro é interpretado ao invés da soma das partes que compõem esse objeto. Observe a imagem a seguir:

Figura 1 - Visualização cadeira como forma
Fonte: Kanok Sulaiman / 123RF.

O que você vê? Uma cadeira, certo? É exatamente o que a Gestalt diz. O olho humano percebe um objeto e, automaticamente, o interpreta como uma imagem inteira, esta imagem consta na memória do observador como um inteiro, antes de perceber as partes separadas que a formam.

E quais são as partes que formam a cadeira? Na imagem a seguir a cadeira está desmontada, com as partes separadas.

Figura 2 - Visualização partes componentes da cadeira
Fonte: Arturs Budkevics / 123RF.

Segundo a Gestalt, existem quatro princípios a ter em conta para a percepção de objetos e formas: a tendência à estruturação, a segregação figura-fundo, a pregnância ou boa forma e a constância perceptiva.

Wundt (apud MONTEIRO; SANTOS, 2002, p. 43) destaca:

[...] tomando o modelo das outras ciências, procurava decompor os processos mentais nos seus elementos mais simples. Se a fisiologia analisava os órgãos, decompondo-os em tecidos e células, a psicologia deveria decompor os processos conscientes nos seus elementos constitutivos e enunciar as leis que regem as suas combinações e relações. Os elementos mais simples seriam as sensações que, associadas, somadas, constituiriam a percepção.

A teoria da Gestalt defende que o que acontece no cérebro não é igual ao que ocorre na retina, pois existe um conjunto de entidades físicas e simbólicas que unidas formam um conceito que é maior do que a soma de suas partes. Sendo assim, compreender como a mente percebe diferentes componentes visuais se torna primordial para criações e expressões artísticas e de Design, pois possibilita, entre outras questões, prever a interpretação e reação dos observadores para com o objeto, obra ou produto criado.

Gomes Filho (2008, p. 19) afirma que “não vemos partes isoladas, mas relações. Isto é, uma parte na dependência de outra parte”, ou seja, nossa percepção sobre as coisas é influenciada pelas forças integradoras do nosso processo fisiológico cerebral, que tendem a primeiro enxergar o todo em detrimento de suas partes, o que interfere em nosso entendimento. Esse pressuposto rompeu com o conhecimento estruturalista até então considerado, que afirmava que nosso cérebro percebia e interpretava o que via separadamente, distinguindo, primeiramente, cada detalhe, cada parte que formava um objeto ou figura separadamente antes de perceber o objeto em si. Afirmação que foi contestada por estudos em psicologia que atestaram que “não podemos perceber unidades visuais isoladas, mas sim, relações: um ponto na dependência de outro ponto” (FRACCAROLI, 1982, p. 13), ou seja, agrupando todos os seus elementos e criando uma única percepção.

“A forma é vista como um todo, ou seja a soma das partes formam o objeto. Ex: Uma árvore é formada:

Infográfico Interativo

Para consultar o Infográfico Interativo,
acesse a versão digital deste material

Na imagem a seguir temos um exemplo desse princípio. No logotipo da empresa Unilever, note que primeiro vemos a letra “U” (o todo), para depois vermos as partes (unidades):

Figura 7 - Partes que formam o logotipo
Fonte: Masrobbi Alfaridi / 123RF.

Para que Serve a Gestalt?

Segundo Gomes Filho (2009), é uma teoria que estuda os fenômenos da percepção humana, considerando que há fatores/leis que determinam como agrupamos elementos de acordo com a percepção visual, sempre buscando uma pregnância da forma, uma boa forma, ou seja, uma configuração que seja bem entendida pelo sistema cerebral. Tratando-se de um estudo de teóricos da área da psicologia, também conhecida como Psicologia da Forma, a Gestalt analisa o processo pelo qual o cérebro percebe, interpreta e organiza as informações visuais que observa.

REFLEXÃO

Você se decepcionou sozinho, ignorando o direito das pessoas serem o que são. Então você é responsável pelo que está sentindo.

Fonte: Fritz Perls (1893-1970).

Nesse sentido, o autor discorre que o que as pessoas veem não é uma simples tradução do estímulo da retina (ou seja, a imagem na retina), mas algo que envolve fatores psicológicos de organização da forma na mente. Assim, pessoas interessadas na percepção têm tentado há muito tempo explicar o que o processamento visual faz para criar o que realmente vemos e quais sensações que sentimos ao visualizá-las.

Figura 8 -  Complexidade ao visualizarmos o objeto
Fonte: Peter Hermes Furian / 123RF.

Tratemos de um exemplo descritivo. Segundo a teoria da Gestalt, ao visualizarmos uma casa não percebemos imediatamente as paredes, janelas, portas, fechaduras e telhado separadamente, mas todos os elementos que, em si, nos fazem identificar uma forma e interpretar que aquela forma, figura ou imagem culturalmente aprendida, diz respeito à uma casa. Isso porque “para a nossa percepção, que é resultado de uma sensação global, as partes são inseparáveis do todo e são outra coisa que não elas mesmas, fora desse todo” (GOMES FILHO, 2009, p. 19).

Para Fraccaroli (1982, p. 12), a hipótese da teoria gestaltista para explicar as forças psicofisiológicas que integram diversas unidades em um todo está relacionada ao sistema nervoso central do nosso cérebro, que possui uma dinâmica auto reguladora, “que a procura de sua própria estabilidade, tende a organizar as formas em um todo coerente e unificado”.

Segundo o autor, é importante destacar que essas organizações integradoras são espontâneas, ou seja, não dependem da nossa vontade. Por meio dessa teoria, foram desenvolvidos outros conceitos capazes de explicar emoções e sensações obtidas pela interpretação e percepção das formas – a Gestalt.

REFLEXÃO

De acordo com as teorias gestálticas, o observador identifica e assimila mentalmente, de modo mais fácil, as formas mais simples, regulares e simétricas, segundo diversos princípios

Fonte: Montaner (2002).

Diante do exposto, nota-se que percepção visual e Gestalt são conceitos estreitamente relacionados, isso porque os estudos da Gestalt utilizam da organização feita pelo nosso cérebro quanto à percepção visual para constituir seus estudos e definições e, assim, aplicá-los em análises psicofisiológicas de formas, figuras e imagens. Koffka (1975), ao realizar suas análises sobre as forças que regem nossa percepção visual, estabeleceu uma divisão geral entre forças externas e internas. As externas dizem respeito à estimulação de nossa retina diante do estímulo de luz proveniente de um objeto/forma em uma situação em que as condições de luz na qual esse objeto/forma se encontra intervém em nossa percepção. Já as forças internas contemplam as forças de organização que estruturam as formas/objetos capturados pela retina numa ordem determinada, a partir das condições de estimulação existentes, ou seja, das forças externas. Existem princípios básicos que conduzem as forças internas de organização de nosso cérebro em relação à percepção das formas, e que possuem características constantes. “São o que os Gestaltistas chamam de padrões, fatores, princípios básicos ou leis de organização da forma perceptual” (FRACCAROLI, 1982, p. 14). Vale lembrar que essas leis serão abordadas no tópico a seguir, sendo as forças que “explicam porque vemos as coisas de uma determinada maneira e não de outra” (FRACCAROLI, 1982, p. 14).

Mas você, aluno(a), deve estar se perguntando: o que isso influencia na minha atividade de Design? Sobre essa questão, Milton Andrade disserta que:

[...] o efeito Gestalt é a capacidade de geração de forma de nossos sentidos, principalmente no que diz respeito ao reconhecimento visual das figuras e formas inteira em vez de apenas uma coleção de linhas simples e curvas. [...] Para funcionar bem para o design tem de se considerar não apenas o elemento único, mas como a totalidade é percebida. É assim que podemos definir a Teoria da Gestalt como uma questão de percepção do todo. Elementos visuais são caracterizados em relação e forma profunda que qualquer bom designer tem que saber e entender. Princípios da Gestalt podem ser úteis para descobrir como funciona a visão ao perceber e por que algumas formas ou elementos são melhor agrupadas ao olhar do que outros (ANDRADE, 2016, p. 67).

Portanto, compreender como funcionam os princípios da Gestalt nos ajuda a criar de forma coerente e harmoniosa a “boa forma” ou “boa pregnância da forma”, atraindo de forma eficaz o usuário para o qual foi destinado o projeto de Design.

REFLEXÃO

Lembre-se sempre de que “design é o pensamento que se faz visível”.

Fonte: Sallbass (apud DABNER, 2014, p. 186).

Sabe quando você olha alguma coisa, gosta, mas algo lhe incomoda? Isso acontece porque sua mente sabe que a Gestalt, ou seja, a configuração da forma, não está completa, boa, adequada e, consequentemente, “tem algo errado ali” que lhe causa um desconforto. Sendo assim, os estudos sobre a Gestalt pretendem oferecer subsídios conceituais para que se compreenda a importância da percepção visual no processo criativo e projetual, interferindo no entendimento e configuração estética dos objetos, ou seja, que pode causar aproximação ou repulsa sobre.

Desse modo, a aplicação coerente das teorias da Gestalt no Design visa mais interação e atração entre objeto e usuário, um dos princípios fundamentais do Design.

Atenção

“[...] não vemos partes isoladas, mas relações. Isto é, uma parte na dependência de outra parte”.

Fonte: Andrade (2016, p. 19).

Koffka, um dos idealizadores da Teoria Gestalt, destaca:

Com o advento do experimentalismo foram descobertos cada vez mais fatos, que destroçaram as velhas teorias. Só quando a psicologia decidiu converter-se numa ciência em busca de fatos é que ela começou realmente a ser uma verdadeira ciência. Do estado em que sabia pouco e imaginava muito, a psicologia avançou para um estado em que sabe muito e fantasia pouco (KOFFKA, 1975, p. 35).

SAIBA MAIS

Para quem entendia a tecnologia e a indústria como forças com o potencial de gerar uma organização social mais perfeita, nada mais lúcido do que a opção por formas e construções identificadas com o progresso industrial. Após décadas e até séculos de resistência ao avanço do industrialismo por questões de sensibilidade artística - ou seja, por achar feia e repugnante a sociedade industrial - surgia um ideário que apresentava a máquina e as suas decorrências na vida, não como coisas que precisavam ser escondidas ou suavizadas, mas como o próprio fundamento de uma nova estética.

Fonte: Denis (2004, p. 113).

Fechamento

Elementos visuais são caracterizados em relação, forma e profundidade, características que qualquer designer tem que saber e entender. Princípios da Gestalt podem ser úteis para descobrir como funciona a visão e por que. A Gestalt auxilia na elaboração e criação de produtos, o que contribui para maior entendimento das possíveis reações dos observadores com relação ao projeto criado. Possibilita-se, assim, maior assertividade ao trabalho do Designer.

Tanto a Gestalt quanto as Técnicas Visuais Aplicadas partem do princípio de que vemos as coisas sempre por meio de um conjunto de relações, sejam físicas, funcionais, psicológicas, fisiológicas ou simbólicas.

Nesta aula, você teve a oportunidade de:

  • identificar os conceitos da Gestalt;
  • abordar as Técnicas Visuais Aplicadas da Gestalt;
  • analisar e interpretar as formas e objetos de modo a concebê-los de maneira estratégica.

Vídeo

Para complementar o seu aprendizado, assista à videoaula a seguir:

Aula Concluída!

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