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Notas

Aula 05


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Introdução

Esta aula une os princípios fundamentais da arquitetura para uma abordagem dos aspectos mais importantes do desenho artístico. Examinaremos e estudaremos os diferentes tipos de recursos e estratégias de desenho artístico, do croqui e do desenho técnico, mostrando como executá-los e onde aplicá-los para obter resultados.

Lembre-se que todo profissional desenvolve uma linguagem própria no seu traço, que se transforma em sua marca pessoal, assim como uma metodologia projetual, na qual o croqui é parte integrante e fundamental do processo.

Ao final desta aula, você será capaz de:

  • conhecer a função do croqui;
  • analisar como os desenhos contribuem no processo de criação de projetos;
  • compreender a importância do traço profissional.
Fonte: Dmitriy Shironosov / 123RF.

Croqui como Pensamento

O desenho em forma de croqui é uma importante ferramenta para o desenvolvimento do pensamento criativo. Seu uso, portanto, contribui para facilitar a exploração da diversidade de pensamento e ampliar o processo de desenho e comunicação. Neste processo, o profissional desenvolve as suas ideias, compartilha e expõe às outras pessoas.

Com o uso do croqui, as ideias podem ser apresentadas rapidamente, de forma simples e concisa, e podem estar sempre à disposição para novas revisões ou posterior manipulação.

Os croquis, na arquitetura e no design, contribuem para transcender as dificuldades que há ao utilizar uma linguagem profissional em determinadas circunstâncias, permitindo a fácil comunicação com pessoas de outras áreas.

Herbert (1987 apud ROHLEDER, 1999, p. 3) destaca o uso dos croquis ou esboços:

Os esboços têm uma função que o desenho a instrumento não pode preencher. Herbert (1987) considerou o uso de esboços (desenhos de estudo) na solução dos problemas de projeto em arquitetura. Ele define "desenhos de estudo" como "desenhos informais pessoais que arquitetos projetistas usam como meio gráfico auxiliar do pensamento na fase exploratória de seu trabalho". Arquitetos muitas vezes fazem esses desenhos de estudo nas bordas ou adjacentemente aos desenhos formais. Em seu artigo, Herbert conjectura sobre as propriedades dos esboços que afetam o processo de projeto. Essas propriedades formam a base de sua teoria do uso de esboços no projeto. Na teoria de Herbert, esboços são usados porque eles proveem uma memória estendida para a imagem visual da mente do projetista. Visto que esboços podem ser feitos mais rapidamente do que desenhos formais, eles permitem uma manipulação mais fácil de idéias. Além disso, esboços permitem que a informação seja representada de várias formas, tais como diferentes vistas ou níveis de abstração. Assim, ele chama os esboços de metáforas gráficas de ambos: objetos reais e desenhos formais de objetos em desenvolvimento ou projeto. De fato, Herbert afirma que esboços são o principal meio externo de pensamento.

ENTENDA O CONCEITO

“O uso da linguagem da ilustração é importante para criar soluções rápidas ou tomar decisões a respeito de forma, espaço, proporção, escala e do ambiente de um projeto em imagens desenhadas – estes estudos são chamamos de esboço ou croqui.” (DOYLE, 2006, p. 93).

O projetista deve pensar criativamente e procurar padrões de observação e interpretação da realidade, buscando comunicar, o melhor possível, as suas ideias. Assim, todo processo de desenvolvimento de um projeto inicial gera uma infinidade de rascunhos e croquis que enchem muitas folhas.

Figura 1 – Pensar criativamente
Fonte: Gstockstudio / 123RF.

Processo Criativo e Croqui

Podemos considerar o processo criativo como uma conversa interior, na qual suas ideias são concretizadas por meio de desenhos; um conceito inicial em um esboço; ou seja, um croqui sobre o papel, que ajuda a materializar as ideias.

REFLEXÃO

“Toda a criação projetiva parte de um problema colocado em evidência.” (FABRÍCIO, 2002, p. 245).

O incentivo e a exploração desses pensamentos primários é uma boa forma de alimentação para nosso cérebro. Devemos estabelecer constante diálogo entre nosso pensamento interior e o papel.

Figura 2 – Croqui, processo criativo de estilistas
Fonte: Olga Kamieshkova / 123RF.

REFLEXÃO

“Em um primeiro momento, tais pensamentos são traduzidos por meio de croquis ou diagramas.” (CHING; JUROSZEK, 2012, p. 37).

No processo criativo do croqui, os desenhos se realizam de maneira impulsiva e nervosa, com formas desordenadas, podendo estar em papéis de qualquer qualidade. Seu processo criativo surge quando menos se espera, em um modo sequencial, à exposição dos sentimentos e fantasias. Segundo Julián e Albarracín (2010), observa-se que o público em geral capta e compreende melhor um croqui ou um desenho esquemático do que uma fotografia muito precisa.

Em nossos croquis, os contornos e traços são simplificados e rápidos, e podem oferecer mais informação do que um desenho realista.

Croqui Esquemático

O desenho realista busca uma representação e uma aparência artificiosa que gera uma simulação da realidade, mas devemos estabelecer uma diferença em desenhos realistas e croquis esquemáticos. Um exemplo disso são os croquis iniciais realizados nas primeiras fases do processo criativo. O croqui substitui uma realidade com determinadas condições para simplificar a proporção entre os objetos reais.

ENTENDA O CONCEITO

“Conceito de projeto é um conceito relacionado à forma, à estrutura e às características de um edifício, representado, graficamente, por meio de diagramas, plantas baixas ou outros desenhos esquemáticos.” (CHING, 2012, p. 94).

O croqui esquemático tem um embasamento planejado. Existe nele uma equivalência de dimensões, ou seja, tamanho, distribuição, medidas e espaços. Deve sempre prevalecer uma funcionalidade. O croqui tem uma ligação muito grande com a representação técnica, disponibilizando informações sem nenhum equívoco. Por conta

disso, podemos concordar que o croqui faz parte de um processo cujo fim é a possibilidade de fabricação ou construção do elemento desenhado.

Para Julián e Albarracín (2010), o croqui é uma representação realizada à mão livre, o que não exige necessariamente medidas exatas, constituindo uma habilidade de esboçar ideias rapidamente, de forma precisa e clara. É uma particularidade de grande valor, uma forma de organizar ideias e recordar mais tarde. O croqui deve esboçar informações precisas e deve ser elaborado com muito zelo, portanto.

Assinatura e Identidade

Segundo Martins (2013, p. 15), os estudos dos sociólogos Anthony Giddens e Claude Dubar permitem um aporte teórico significativo para compreensão do conceito de identidade profissional. Anthony Giddens compreende a identidade entrelaçando as características distintivas que envolvem a autocompreensão de um indivíduo ou de um grupo.

Tendo por referência seu conceito de reflexividade discute o conceito de auto identidade com base na compreensão de segurança ontológica dos indivíduos e suas experiências que, em termos fenomenológicos, têm a ver com o ser-no-mundo. Entende a possibilidade do sujeito tornar-se autor de seu projeto de vida e decidir sobre como adotá-lo sendo que esta decisão se realiza como fruto de sua liberdade de escolha e de seu poder como capacidade transformadora. Neste sentido, ele afirma que a auto realização torna-se fundamental para a auto identidade. (GIDDENS, 1991; 2002; 2004).

Com o tempo, nossos croquis vão se caracterizar por linhas e traços expressivos como nossa própria assinatura, podendo-se afirmar que é a mais clara e explícita identidade do que o arquiteto pensa ou imagina estabelecer entre suas ideias iniciais e a obra edificada, o que mostra a importância do croqui no processo projetual.

O designer deve ser capaz de articular essa aparente ausência de liberdade no seio de seu processo criativo, de modo que um efeito compensador, jogando a seu favor, resulte em um sentido intencional e simultaneamente inevitável. (BECARI, 2010, p. 5).

Socialização e Construção de Identidades

Ao longo de sua trajetória biográfica, o indivíduo passa por numerosos processos de  socialização que vão refletir na sua capacidade de interagir com os outros num determinado contexto sociocultural. Ressalta Kruppa (1994) que a socialização, resultante da interação entre os indivíduos e a sociedade, configura-se como um processo em construção que tem como agentes o ser humano e o grupo social. Neste processo, o indivíduo se aproxima da conduta do grupo, incorporando certos padrões sociais, e também age sobre o grupo, tendo possibilidade de modificá-lo. A socialização, neste sentido, é um processo permanente, passa a fazer parte do conjunto de experiências do indivíduo (OLIVEIRA, 2011, p. 18).

Postic (1995) considera que a socialização é um processo de aprendizagem de condutas pelo conhecimento que se tem das características das situações, das pessoas, das formas de ação que parecem apropriadas, além do uso nas relações com os outros; essas condutas são fruto da experiência de cada indivíduo (OLIVEIRA, 2011, p. 18).

Para Dubar (1997), o processo de socialização permite compreender a noção de identidade numa perspectiva sociológica restituída numa relação de identidade para si e identidade para o outro (OLIVEIRA, 2011, p. 18).

Hall (2001, p.7) defende que “[...] as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado [...]” e introduz a noção de crise de identidade como um processo de mudança, deslocando a estrutura e os processos centrais das sociedades modernas, e abalando os quadros de referência de estabilidade do mundo social (OLIVEIRA, 2011, p. 18).

Dubar (1997, p. 239) menciona que as identidades estão em movimento e a dinâmica de desestruturação/estruturação pode, às vezes, provocar a “crise de identidade”. Neste sentido, o autor apresenta quatro configurações identitárias baseadas em investigações empíricas francesas, realizadas ao longo dos anos 60 e 80. Para Dubar (1997), as formas identitárias resultam da articulação entre as transações objetiva e subjetiva que caracterizam estados de continuidade ou ruptura entre a identidade herdada e visada no âmbito subjetivo, e estados de reconhecimento e não reconhecimento social no âmbito objetivo, entre a identidade atribuída pelo outro e identidade incorporada para si (OLIVEIRA, 2011, p. 18).

Oliveira (2011) ressalta que Claude Dubar discute a ideia de socialização e a construção da identidade profissional. Entende que as atividades profissionais, produtoras de obras e de serviços, dão sentido à existência individual e organizam a vida de coletivos. Ressalta que elas “[...] não se reduzem à troca econômica de um gasto de energia por um salário, mas possuem uma dimensão simbólica em termos de realização de si e de reconhecimento social.” Assim essas atividades “[...] permitem àqueles que as exercem identificar-se por seu trabalho e serem assim reconhecidos.” Entende que essas identidades são construídas por e no processo específico de socialização, ligando educação, trabalho e carreira (DUBAR, 2012, p. 82).

Para que uma profissão seja realmente reconhecida e efetivada, é preciso que sejam cumpridas algumas especificidades técnicas (OLIVEIRA, 2011, p. 18). Paulo Roberto Gonçalves de Oliveira (2011) cita o sociólogo Gordon Marshall que indica, dentre outras características, a presença de uma instância reguladora para garantir o desempenho dos membros, de um código de conduta, gestão dos conhecimentos que sustentam as atividades profissionais e treinamento de novos profissionais (MARSHALL,1988).

De acordo com Nicholas Abercrombie (1994), a identidade profissional pode ser definida como existente quando se denota o conjunto específico de características: uso de habilidades baseadas em conhecimentos teóricos; educação e treinamento nessas habilidades; competência dos profissionais assegurada por avaliações; código de conduta para garantir a integridade profissional; desempenho de um serviço que é para o bem público; uma associação profissional que organiza membros que compartilham dessa mesma identidade (OLIVEIRA, 2011, p. 18).

Christine Piotrowski (2002), com relação à formação e prática do designer de interiores, indica as características que esse profissional deve ter e/ou desenvolver para poder atuar profissionalmente garantindo a segurança, o bem-estar e a qualidade de vida dos usuários.

Ter capacidade criativa a fim de tornar realidade as respostas às necessidades e problemas dos clientes: são vários os cenários – na interface indivíduo e espaço e sua relação existencial com os objetos – que permitem ao designer de interiores identificar e solucionar criativamente os problemas e as necessidades dos clientes. (OLIVEIRA, 2011, p. 18).

Desde a Segunda Guerra Mundial, apesar das desigualdades e exclusões sociais, desencadeou-se um processo acelerado de desenvolvimento em várias dimensões, a níveis exponenciais, permitindo possibilidades quase ilimitadas na interface indivíduo-espaço e na sua relação com os objetos, determinantes para a compreensão do design (OLIVEIRA, 2011, p. 18). Essa situação impacta na ampliação de exigências e necessidades e, por sua vez, amplia as perspectivas profissionais de atuação e de autocompreensão do designer. A profissão vem evoluindo, ganhando novas nuances e demandas profissionais. As novas exigências – em virtude da complexidade e da interpenetração de várias áreas – implicam na evolução das formas de trabalhar. (OLIVEIRA, 2011, p. 20).

ENTENDA O CONCEITO

“Croqui é um esquema gráfico de um projeto, na sua fase inicial, apresentado na forma de um esboço que indica o caráter conceitual da arquitetura pretendida. Permite o estudo da concepção e o seu desenvolvimento por meio de novas possibilidades.” (CHING, 2012, p. 39).

As características básicas do croqui para os arquitetos e designers são a mais pura semelhança entre o que se imagina mentalmente, expressa em forma de esboços, e o resultado que deseja tornar verdadeiro.

Figura 3 – Desenvolvimento de um traço profissional
Fonte: Comaniciu Dan Dumitru / 123RF.

O croqui é uma intelectualização única e de grande valor, por sua semelhança com o real de maneira mais simplificada, mas estabelecendo conceitos fundamentais na composição e elaboração do projeto arquitetônico de uma edificação. Com este pensamento, a arquitetura desenvolvida mediante os croquis é puramente uma arte realista, pois forja e estabelece coisas reais e concretas. O croqui, no entanto, é uma linguagem apropriada pelo arquiteto, sendo sua livre e mais pura expressão criativa e cultural.

Croqui e Percepção do Espaço

O ato de desenhar os espaços e modelos é pensar transversalmente por meio de uma imagem visual e projetar suas ideias no que se refere a uma edificação na arquitetura, um objeto, ou um vestuário, desenvolvendo intervenções elaboradas e organizadas nos espaços e moldes. De acordo com Gouveia (2017), em sua tese de doutorado intitulada O croqui do arquiteto e o ensino do desenho, a imagem visual que temos dos espaços existentes é composta de sons, aromas, temperatura. Quando nós, como arquitetos, pensamos em intervir neste espaço, fazemos transparecer todos os seus elementos por meio de imagens visuais.

Figura 4 – Percepção do espaço por meio do croqui
Fonte: Torky / 123RF,

A transformação de uma imagem visual mental em uma imagem representada – no caso, o croqui do espaço – dá-se de maneira que haja semelhança entre as duas, e só ocorre por um desenvolvimento perceptivo do espaço, ou seja, do processo de formas de imagens visual-espaciais.

REFLEXÃO

“O esforço filosófico se estabelece na possibilidade de perceber, no espaço construído, o espaço vivido.” (BRANDÃO, 2006, p. 10).

No entanto, a percepção do espaço deve ser captada e avaliada adequadamente, observando-se as posições, direções, distâncias, grandezas, movimentos, formas e, consequentemente, luz, sombra e cores. O grande segredo está em saber como são visualizados os espaços e os objetos e extrair ao máximo suas informações.

Fechamento

Nesta aula, aprendemos que as representações por meio de croquis são utilizadas com diversas finalidades, respondem a diversas questões e dão suporte aos designers – auxílio a definições de requisitos, compatibilização da ideia com o conceito, exploração de opções, teste de viabilidade técnica, testes e avaliações de usuários etc. Cada finalidade determina a tipologia de representação a ser utilizada.

Vimos também que o traço profissional é adquirido com conhecimento técnico e nas experiências e formação profissional. É responsável por mediar a criação e o desenvolvimento das soluções projetivas. Aliada ao conhecimento, está a cultura construtiva, que demarca repertórios de cunho projetivo e construtivo.

Nesta aula, você teve a oportunidade de:

  • entender a importância do croqui no processo criativo;
  • desenvolver um traço profissional por meio do croqui;
  • conhecer a aplicação de croqui para percepção dos espaços.

Vídeo

Para complementar o seu aprendizado, assista à videoaula a seguir:

Aula Concluída!

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