Como visto até aqui, o desenho é uma interpretação gráfica da realidade, sendo que conhecer os materiais empregados e elementos necessários para desenhar é indispensável para o seu domínio.
Existe uma grande diversidade de materiais que podem ser empregados na elaboração de desenhos. Nesta aula, vamos conhecer alguns desses materiais, que são mais utilizados na representação de sombras e efeitos realísticos. Desenhos realísticos não são somente feitos de traços. Os traços nesse tipo de representação são utilizados para limitar as manchas, as quais possuem valores tonais de tons de cinza ou de cores aplicados de acordo com a luz.
O domínio das técnicas tonais e sombreamento não depende somente da habilidade manual, sendo necessário também observar e pensar de forma diferente, de modo a perceber como a luz interage com os corpos e proporciona um espetáculo de manchas e nuances sutis harmoniosamente.
Ao final desta aula, você será capaz de:
O processo criativo por meio do desenho passa primeiramente pelo conhecimento dos materiais e instrumentos básicos para execução dos trabalhos. A princípio, o uso do lápis e do papel, combinado com técnicas de representação visual, a prática e o acúmulo de experiências ao longo do tempo, servirá para a realização de um desenho ideal.
Seguem alguns materiais:
A maioria dos papéis é fabricada com polpas de fibras e água. De acordo com o tipo de papel, são acrescentados alguns componentes dependendo do tipo de papel e da sua aplicabilidade. Em geral, os papéis apresentam duas características principais:
Os papéis mais utilizados para desenho são o papel sulfite e o papel kraft. O papel sulfite A4 gramatura 90g é o mais indicado para desenhos ou esboços, pois sua superfície porosa costuma absorver bem o grafite do lápis, o carvão e o giz pastel.
Já o papel kraft, com sua coloração parda, devido à ausência de ácidos e agentes branqueadores, também é bastante utilizado para desenho, apesar de sua principal utilização seja em embalagens, pois apresenta uma maior durabilidade em relação ao sulfite, por exemplo.
Quadro 1 – Tipos de papel e aplicações
Fonte: Recicloteca ([s.d.]).
O lápis é ferramenta fundamental para o ato de desenhar. Diferentes intensidades de traço a lápis são possíveis, devido à diferença de dureza dos grafites. Os grafites mais utilizados são os grafites macios, os quais variam do H até as gamas mais altas de B. Procure trabalhar com lápis de três gramaturas diferentes: 2H, HB e 2B.
• Lápis H: nessa graduação, o grafite é mais duro. O H vem de hard, do inglês, que quer dizer duro.
• Lápis B: Nessa graduação, o grafite é mais macio, o B vem de black, preto pois o grafite, por ser mais macio, deixa o traço mais escuro.
Nesses dois casos, o número que segue a letra, por exemplo: 2H ou 2B. É o índice diferenciador do grau da dureza ou maciez do grafite do lápis. Nesta graduação do grafite, quanto maior a numeração anterior a letra, no caso a letra H, maior a dureza do grafite, ou seja, o traço será fino, se for necessário o desenhista exercerá mais esforço para fazer o traço. Nos casos de lápis que apresentam a letra B anterior ao número, quanto maior mais macio será o grafite. Para os lápis que apresentam a letra B, quanto maior o número ao lado do B, mais macio é o grafite.
• O lápis F, de for fine point, apresenta um grafite que permite manter a ponta do lápis fina por mais tempo.
• O lápis HB, o HB vem de hard/brand, dureza média, é o lápis normalmente usado para escrita.
(Geraldo Antonio Gomes Almeida, IFMT, 2005, p. 5)
A borracha é um instrumento para correção de traços feitos a lápis. Uma borracha para desempenhar seu papel com êxito deve ser de qualidade. Antes de adquirir uma borracha, é importante fazer alguns testes para verificação se ela não apagará o desenho sem borrar. Seguem alguns tipos de borrachas:
Quando nos deparamos com um desenho, estamos diante de um grande conjunto de técnicas e combinações. Esse emaranhado nos remete a estímulos sensoriais de linguagem visual, aproximando-nos do realismo de uma cena ou de um objeto representado.
A busca da realidade se dá por meio de valores tonais, e o entendimento de quais tons são escuros e quais são claros nos traz a complexidade da arte de desenhar, fazendo com que aquela imagem adquira corpo e volume.
É importante o treino de nossos olhos para que se tornem olhos de um artista. Assim, antes de desenhar, devemos observar e contemplar o objeto ou a paisagem e buscar em nossa memória um conjunto de manchas mais e/ou menos intensas, relevantes de acordo com seu posicionamento e intensidade, natural ou artificial que nos revelam as faces de texturas daquele objeto.
“O grande segredo para obtermos um acabamento final de qualidade em nosso desenho é executar por meio de valores tonais progressivos e contínuos, com suaves e despercebidas transições entre áreas sombreadas ou sem sombreamento”.
Fonte: Roig (2014, p. 144).
Em busca do equilíbrio e de uma continuidade entre o sombreamento claro até o escuro, o dégradé é uma das técnicas mais eficientes, pois não deixa marcas nem interrupções nessa transição.
A posição do lápis para iniciar um desenho sombreado deve ser com uma inclinação de aproximadamente 45° e segurá-lo em uma extremidade, não muito próximo ao grafite; assim, resultará em um traço leve e suave. O lápis a ser utilizado é o de gramatura macia, preferencialmente, mas, a critério do desenhista, outros tipos de lápis podem ser utilizados, observando qual se adéqua ao estilo de desenho a ser apresentado.
“A tonalidade sombreamento, também chamada de valor, refere- -se à variação de áreas claras e escuras existentes em um desenho”.
Fonte: Birch (2015, p. 34).
De acordo com Edwards (2003), no livro Desenhando com o lado direito do cérebro, o mesmo desenho poderá ser feito várias vezes, utilizando-se a mesma incidência de luz e alterando a intensidade de contraste entre luz e sombra. Em geral, o sombreamento fica evidente em sólidos geométrico básicos com iluminação lateral, ou com luz incidente de cima ou por baixo, lembrando que a luz frontal não revela o volume do objeto.
Assim, o resultado transmitido em nossos olhos por esse desenho é a evidente graduação entre as escalas tonais, desde o claro até o escuro, dando destaque às formas e volumes próprios do objeto.
Os tons sombreados criados com o lápis podem ser de duas maneiras. A primeira é a utilizada por meio da pressão exercida sobre o lápis. Por meio do lápis com grafite macio, conseguimos o tom desejado. Mais força no traço desenhado resulta em tons mais escuros e menos força, tons mais claros. Os sombreados mais utilizados são o grisê, técnica pela qual se obtém o meio-tom através de retículas verticais, horizontais ou inclinados.
Nesse exemplo, podemos observar vários tipos de grisês, verticais, horizontais, diagonais e pontilhados. Adaptações podem ser feitas para dar volume a objetos curvos, como esferas e cilindros.
As tonalidades variam de acordo com a pressão, e uma gama mais extensa de tonalidades vai sendo adquirida com a experiência do desenho.
“O grisê vertical é realizado com linhas perpendiculares à margem do papel, já o inclinado com linhas na diagonal” (ROIG, 2014, p. 134). O desenhista tem um controle muito preciso da linha porque pode apagá-la e desenhar tantas vezes quantas precisar.
A segunda maneira é, por meio de um lápis mais duro, criar um sombreado grisê em camadas, ou seja, essa sobreposição de camadas dará o aspecto de claro e escuro desejável. Roig (2004) ressalta que é de fundamental importância quanto ao uso do grisê em sombreados manter a mesma pressão e velocidade no desenho da textura, e esse controle resultará em um traço uniforme.
A aplicação do sombreado deve ser realizada na direção conveniente. Segundo Roig (2014), a observação de modelos reais é de vital importância para determinação correta da direção dos traços do sombreado. Certos objetos são necessários produzir um efeito para representá-lo do modo desejado.
“O desenho é um grande conjunto de combinações e técnicas; entre elas estão as técnicas tonais e suas combinações de sombreamento, as quais bem trabalhadas podem ampliar um conjunto de possibilidades para desenhar”.
Fonte: Menezes (2018, p. 58).
Na maioria das vezes, a direção de um dégradé é perpendicular, mas em alguns casos podem ocorrer fusões com direções curvas para representação de objetos curvilíneos ou circulares.
Para o desenho de objetos em uma superfície bidimensional como o papel, é necessário dar volume e tridimensionalidade a ele. Para que isso aconteça, a representação é por meio de manchas, de maior e menor intensidade. Essa variação é correspondente à incidência de luz sobre a face do objeto a ser desenhado.
A definição das intensidades e das variações dos valores tonais são estabelecidas de acordo com a distribuição das luzes. Tais variações criam uma atmosfera tridimensional ao objeto, dando volume ao desenho por meio das diferentes graduações do sombreado.
“Na determinação e organização das sombras, os valores tonais devem ser suaves e gradativos, iniciando-se com os valores mais claros e avançando, aos poucos, até os mais escuros”.
Fonte: Roig (2014, p. 132).
Quanto maior a aplicação do contraste entre luz e sombra em seu desenho, mais aumenta a proximidade do objeto desenhado à realidade. O volume é em conjunto com a forma outro dos aspectos que diferenciam os objetos que nos rodeiam. A definição correta do volume de um objeto se consegue através da valorização exata das intensidades das suas sombras. O efeito de volume que percebemos depende da incidência da luz. Sem luz, não é possível perceber o volume de nenhum objeto, mas a sua forma. O objetivo do desenho realista (baseado no claro-escuro) é mostrar os tons da luz, sombras e da superfície, criando uma ilusão tridimensional. Os contornos num desenho apenas definem bordas visíveis e não nos dizem nada sobre luz e escuridão.
Roig (2014) orienta que a melhor forma é praticando os contrastes, a partir de volumes simples como: esferas, cilindros, cubos, prismas e combinação entre eles. A aplicação dos conceitos frente à representação de volumes consiste também na alteração da direção e a intensidade da iluminação, variando a posição das sombras e harmonia das luzes.
A técnica de suavização de cores é definida por esfumado ou sfumato. Esse efeito no desenho produz uma graduação sutil e nebulosa.
Após a definição da técnica de sombreado realizada por qualquer das técnicas já citadas nesta unidade, faz-se o esfumado com o auxílio do esfuminho, um bastão utilizado para esse fim, ou a própria polpa dos dedos, borrando, assim, os traços e sombreados do desenho (ROIG, 2014).
Em uma base com grafite, carvão ou giz pastel, as formas desenhadas podem ser suavizadas direto com o dedo. Esse esfumado direto resolve o trabalho de suavização de grandes áreas de trabalho. A utilização do dedo como instrumento de esfumaçar sombras não garante a precisão, mas integra muito bem e suaviza o desenho na brancura do papel e sem vestígio nenhum do traço (ROIG, 2014).
“Verifique que o desenho esfumado apresenta maior imprecisão atmosférica e caráter mais pictórico que o realizado com traços limpos e precisos”.
Fonte: Roig (2014, p. 152).
Ainda Roig (2014) salienta que o efeito esfumado num rascunho em tons de cinza é possível devido a uma integração de grande suavidade entre as tonalidades claras e escuras. Sobre uma área feita com grisê grafite, é possível utilizar também um algodão para obter um esfumado suave que tanto pode criar uma tonalidade e integrá-la quanto pode modelar o objeto desenhado.
Ao desenharmos um objeto, é impossível vê-lo finalizado sem luz e sombra. Ambas fazem parte do acabamento da obra finalizada e garantem a tridimensionalidade do que se quer representar.
Os valores tonais de uma sobra são determinados pela intensidade da luz que recebem. O sombreamento, uma ilusão mágica de realidade tridimensional, garante a profundidade dos desenhos no papel ou em uma tela. A luz define qual face será vista e qual ficará escura, e essa definição se dará de acordo com o posicionamento escolhido.
Com essa fonte de luz pronta, a textura das faces do objeto pode ser representada por meio de técnicas de hachuras e suavização de tonalidades esfumaçadas.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
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