A concepção de uma imagem para comunicar uma ideia presume o uso de uma linguagem visual. Entende-se que, assim como as pessoas podem verbalizar o pensamento, podem visualizá-lo. Neste estudo vamos destacar alguns elementos que fazem parte da comunicação visual, abordando como foram organizando sua estrutura, além de seus efeitos no processo comunicativo.
Esses elementos fazem parte de um conjunto que permite construir composições que geram uma troca de informação entre os seres humanos. O modo visual constitui todo um corpo de dados que pode ser usado para compor e compreender mensagens em diferentes níveis. Vamos conhecer alguns desses elementos e suas origens. Entre eles, destacamos: ponto, linha, cor, movimento, textura, direção e escala.
Ao final desta aula, você será capaz de:
O ponto é a base da linguagem visual, é o começo de tudo. É um elemento básico da Geometria. Por meio dele se originam todas as outras formas geométricas. Considera-se como ponto qualquer elemento que funcione como forte centro de atração visual dentro de um esquema estrutural, quer seja numa composição ou num objetivo (FORTES, 2001).
O que é um ponto? É um pequeno elemento se o confrontarmos com o restante da imagem; é o menor de todos os elementos da linguagem visual, porém, é por intermédio dele que arquitetamos imagens.
Segundo Dondis (2007), quando qualquer material líquido é derramado sobre uma superfície, assume forma arredondada, mesmo que esta não simule um ponto perfeito. Quando fazemos uma marca com um bastão, pensamos nesse elemento visual como um ponto de referência ou um indicador de espaço.
Um ponto pode servir para demarcar duas extremidades de uma linha, a intersecção de duas linhas, o encontro de linhas na extremidade de um plano ou volume, ou mesmo o centro de um campo visual (CHING, 2002).
Quando o ponto assume a posição central de um campo, é considerado estável e capaz de organizar outros elementos ao seu redor. Ao assumir uma posição descentralizada, torna-se mais dinâmico, embora ainda conserve a qualidade centralizadora. Formas que são geradas por pontos, como o círculo e a esfera, compartilham essa característica de natureza estável (CHING; BINGGELI, 2013). Em grande quantidade e justapostos, os pontos são capazes de criar a ilusão de tom ou cor (DONDIS, 2007).
Partindo de sua estrutura, o ponto é o início que dá forma à linguagem visual. Nas artes visuais, uma imagem não se edifica em um único ponto, mas em conjuntos de pontos as imagens começam a se organizar e a tomar forma.
A capacidade de governar o olhar é estimulada pela maior proximidade desses pontos: quanto mais juntos estiverem, mais rápido será o movimento visual. Com esse movimento, os pontos se ligam. Em grande número e justapostos, os pontos criam a ilusão de tom ou de cor.
Esse acontecimento perceptivo da combinação visual entre os pontos foi conferido por Seurat no desenvolvimento de quadros pontilhistas, com extraordinários tons e cores variadas. Mesmo tendo utilizado apenas quatro cores (amarelo, azul, vermelho e preto), a técnica foi aplicada com pincéis muito pequenos e pontiagudos. Esse processo de fusão, organização e contraste foi bastante explorado pelos impressionistas, realizando nos olhos do espectador um processo envolvente e estimulante.
Esse método era semelhante a algumas das teorias de McLuhan para as quais a compreensão visual e a participação no ato de ver são parte do significado. Porém, ninguém foi tão completo nas investigações dessas possibilidades quanto Seurat, que em seus esforços parece ter antecipado o processo de quadricromia a meio tom, por meio do qual são atualmente reproduzidos, na impressão em grande escala, quase todas as fotos e os desenhos em cores de tom contínuo (DONDIS, 2007).
Assim, vamos da estrutura de um simples ponto para o desenvolvimento do processo de comunicação.
Quando pontos estão tão próximos que se fundem em um trajeto definido pelo movimento em uma sequência contínua, eles se transformam em outro elemento visual específico: a linha.
Vamos explorar um pouco os conhecimentos sobre a estrutura desse elemento de comunicação que faz parte do conjunto da linguagem visual.
A estrutura da linha nasce da ligação contínua de pontos. Quando fazemos um marcador de pontos (uma linha) sobre uma superfície movendo-o em uma determinada trajetória, as marcas formadas se converterão em um registro.
A linha possui energia; ela nunca é inerte. É um elemento visual inquieto; em qualquer lugar que esteja, é uma ferramenta fundamental da pré-visualização de algo que ainda não existe. Sua natureza linear e fluida fortalece a liberdade de experimentação. Apesar da flexibilidade e da liberdade, a linha não é vaga, tem propósito e direção, é decisiva, pode ser rigorosa e técnica, e é fundamental na linguagem visual (DONDIS, 2007).
Por não ser um elemento inerte, sua colocação espacial atinge diferentes formatos. Alguns autores simplesmente classificam as linhas como físicas, geométricas e geométricas gráficas; seus formatos podem ser categorizados em simples e complexos.
Linhas simples: são aquelas que percorrem sempre a mesma direção.
Linhas curvas: essas linhas estão em constante mudança de direção, de forma constante e suave.
Linhas complexas: são aquelas que mudam de direção de forma mais livre.
Linha poligonal ou quebrada: composta por segmento de retas que possuem muitas posições.
Linhas sinuosas ou onduladas: são compostas por uma sequência de linhas curvas.
Linhas mistas ou mistelíneas: são compostas pelas linhas retas e curvas.
Com base nas figuras anteriores podemos conhecer um pouco da estrutura da forma da linha e de como ela se organiza no espaço.
Nas artes visuais, a linha é o instrumento fundamental da pré-visualização, o meio de apresentar e expressar de forma palpável aquilo que ainda não existe, a não ser na imaginação. Dessa maneira, a linha contribui de forma pontual para o processo visual.
Na arte, a linha é um elemento, por exemplo, do desenho, um sistema de notação que permite a captura da informação na comunicação visual.
A linha também é um instrumento nos sistemas de notação, como na escrita, na criação de símbolos elétricos e na música. Esses são alguns exemplos de sistemas simbólicos nos quais a linha é o elemento mais importante de comunicação.
Pode ser num manuscrito em forma de rabiscos nervosos, reflexo de uma atividade inconsciente, de forma concreta e específica para o projeto de uma casa ou mesmo no formato frio e mecânico dos mapas: a linha reflete a intenção de sentimentos, emoções e impressões.
Fonte: Dondis (2007).
Vejamos alguns exemplos de linhas: reta; curva, inclinada, vertical, horizontal, quebrada, espiral e ondulada.
Cada linha em seu formato sugere uma sensação diferente, sendo aplicada no processo de comunicação visual.
O surgimento dos primeiros pigmentos de cor não tem estabelecida uma data específica, mas sabemos que a estrutura inicial vem de elementos naturais fabricados pelos povos pré-históricos que moíam materiais coloridos, como terra, plantas e argila em pó, adicionando água à mistura. A técnica era simples, preparada com os próprios dedos e prensada entre pedras, mas já surpreendia em seus efeitos.
Os egípcios primitivamente confeccionavam as tintas a partir de materiais encontrados na terra de seu país e regiões próximas. Para atingir cores adicionais, importavam da Índia a anileira e a garança. Com a anileira, adquiria-se um azul profundo; da garança, nuanças de vermelho, violeta e marrom.
Logo mais surgiram as tintas de escrever, presumivelmente inventadas pelos antigos egípcios e pelos chineses – as datas exatas dessa invenção são desconhecidas. Manuscritos de cerca de 2000 a.C. relatam que os chineses já conheciam e faziam uso do nanquim. Assim foi o surgimento dos primeiros pigmentos.
A estrutura da cor é dividida em estrutura física e psicológica. A estrutura física se divide em: matiz, que difere uma cor da outra; saturação, que produz diversas nuanças de acordo com a pureza e a intensidade da cor; luminosidade, que é o constituinte que provoca alteração nas cores entre claro e escuro.
A estrutura psicológica relata sensações inconscientes que a cor produz no homem. A temperatura, que também é uma sensação psicológica, se estabelece como quente e fria. O contraste remete à sensação de que a cor aproxima e distancia. Peso e tamanho estão relacionados à sensação de que cores escuras são menores e mais pesadas que cores leves. Esses são alguns dos fatores que fazem parte do processo de organização estrutural da cor.
O homem não estava à procura de elementos que embelezassem ou protegessem sua casa quando a tinta surgiu, pois naquela época ele residia em cavernas. Foi por sua necessidade de expressar pensamentos, emoções e a cultura do seu povo que a cor foi descoberta, sendo utilizadas para que o homem se expressasse, se fizesse entendido. Desde os primórdios a cor já era utilizada como forma de comunicação para decorar tumbas e cavernas, e principalmente o próprio corpo.
Como a percepção da cor é o mais emocional dos elementos específicos no processo visual, ela tem evidente força e poder, e pode ser utilizada com muito proveito para revelar e intensificar a informação visual.
A cor não tem apenas um significado universal compartilhado pela experiência, mas tem também um valor informativo específico, capaz de comunicar significados simbólicos vinculados (DONDIS, 2007).
O processo de comunicação pela cor está de muitas formas ligado ao nosso cotidiano; as cores são utilizadas como meio de comunicação, em pinturas, placas, semáforos, entre outros.
As cores podem liberar um leque de possibilidades criativas na imaginação do homem, exercendo três ações sobre o observador que recebe a comunicação visual: impressiona, provoca uma reação e constrói uma linguagem própria que comunica uma ideia, que ultrapassa fronteiras espaciais e temporais. Além disso, a cor não tem barreiras nacionais, e sua mensagem pode ser compreendida também por analfabetos.
As cores têm a capacidade de liberar um leque de possibilidades criativas na imaginação do homem, agindo não só sobre quem receberá a imagem comunicada, mas também sobre quem a produz.
Como já vimos, as linhas conduzem o olhar, sugerindo movimento. Existem perspectivas de composição nas quais o movimento é o elemento principal.
As linhas utilizadas na composição podem remeter movimento ou ondulação às imagens. O movimento não se encontra no meio de comunicação, mas no olho do espectador, na persistência da visão: uma série de imagens imóveis com ligeiras modificações vistas pelo olho humano com intervalos de tempo pertinentes acaba se fundindo mediante um fator remanescente da visão, criando a sensação de movimento. Um quadro, uma foto ou um tecido podem ser estáticos, mas a quantidade de repouso e a constância projetadas podem implicar movimento.
O olho explora continuamente o meio ambiente em busca de inúmeros métodos de absorção.
Fonte: Dondis (2007).
O movimento visual é o elemento responsável por movimentar o olho e a mente do espectador. No processo comunicativo, essa composição que gera movimento conduz o olhar do espectador para determinado ponto ou faz com que o olhar percorra um caminho pela composição. Tal transmissão efetua o entendimento da ação de compreender o contexto gerado pela imagem.
Outra probabilidade é a de utilizar o movimento por associação: temos a sensação de elementos vivos ou animados no mundo real, peixes, ondas, gaivotas que apresentam estruturação para o movimento em uma comunicação visual estática que se associa ao movimento real.
Podemos definir a textura como um objeto visual que propaga uma característica tátil.
É um espaço preenchido com o objetivo de gerar interesse e separação visual, que pode ser geométrica ou orgânica. A maior parte da nossa experiência com a textura é óptica, não tátil.
A textura se relaciona com a composição de uma matéria por meio de variações mínimas na superfície do material; funciona como uma experiência sensível e enriquecedora.
Fonte: Dondis (2007).
É muito comum que uma textura não apresente qualidade tátil, mas apenas óptica, como no caso das linhas de uma página impressa, dos padrões de determinados tecidos ou dos traços superpostos de um esboço.
É um elemento visual que com frequência serve de substituto para as qualidades de outro sentido, o tato. A textura pode ser utilizada como elemento para reforçar uma ideia ativa na memória sensorial, como uma experiência enriquecedora e sensível.
O significado de sua aplicação em objetos tem ampla relação com o universo de memórias e experiências pessoais, que podem ser comunicadas por meio de experiência tátil ou óptica.
O homem tem a referência de direção como algo que possa ser mudado de acordo com seu bem-estar. Essa referência pode ser horizontal ou vertical.
As formas básicas dos objetos são expressas em três direções:
Essas direções são de grande valia quando utilizadas para criação de mensagens visuais. Cada forma básica que compõe os elementos está associada não somente ao meio ambiente e ao organismo humano, mas também ao equilíbrio visual da forma.
A necessidade de equilíbrio não é uma necessidade exclusiva do homem; dele também necessitam todas as coisas construídas e desenhadas. A direção diagonal tem referência direta com a ideia de estabilidade.
Fonte: Dondis (2007).
A direção tem referência direta em inúmeras possibilidades de comunicação baseadas nas principais direções básicas: o quadrado, com a horizontal e a vertical; o triângulo, com a diagonal; o círculo, com a curva.
Alguma delas podem ser trabalhadas em conjunto ou individualmente, em forma de símbolos, ou mesmo de orientação.
Todas as forças direcionais são de grande importância para a intenção compositiva voltada para um efeito e um significado definidos (DONDIS, 2007).
Todos os elementos visuais são capazes de se modificar e de definir uns aos outros. O processo constitui, em si, o elemento daquilo que chamamos de “escala” (DONDIS, 2007). Desde os primórdios a medida de referência estava baseada no corpo humano.
Presume-se que o ser humano tenha uma noção do seu corpo como parâmetro de comparação de medidas. Nos projetos arquitetônicos, por exemplo, pode-se relacionar o tamanho dos objetos com a figura humana desenhada. Em uma maquete arquitetônica ou pintura, a representação da figura humana permite intuir relações de distância e tamanho com os demais elementos em seu entorno.
Leonardo da Vinci representou o corpo humano como a perfeição das medidas; Albrecht Dürer tentou encontrar a perfeição das medidas humanas estudando a relação de proporção e simetria entre diferentes partes do corpo; Le Corbusier dedicou boa parte de seus estudos a desenvolver uma medida universal para a Arquitetura. Ele acreditava na relação perfeita entre Arquitetura e escala humana.
A noção de medida é indispensável para a compreensão e a definição do ambiente ao nosso redor. O sentido do termo “escala” é muito mutável para o meteorologista, o cartógrafo, o matemático, o músico, o biólogo, entre outros. A palavra “escala” ganha diferentes significados.
Todos os elementos, em relação à sua proporção de grandeza ou pequenez, estão habilitados a modificações e definições uns dos outros pelo processo de escala. O grande não pode existir sem o pequeno. Em termos de escala, os resultados visuais são relativos, pois estão sujeitos a várias modificações.
Nesse processo de comunicação que envolve a troca de informações para compreensão da mensagem, o fator escala faz toda a diferença.
Relacionar o tamanho com o objeto e o significado é essencial na estruturação da mensagem visual.
Fonte: Dondis (2007).
A comunicação visual baseada num padrão de escala faz com que o observador compreenda com precisão aquele que define a imagem. Ter como centro de referência a escala entre os elementos que estiverem na composição da imagem facilita a formação do entendimento da mensagem.
O processo de comunicação visual é organizado por uma série de elementos que contribui para comunicar e fazer entender na informação visual.
Por meio desse estudo foi possível captar, na utilização de cada um desses elementos, como materializar pensamentos, sentimentos e mensagens. Sabemos que essa composição de materialização não é causal e ocorre de maneira intencional, então, tiramos proveito desses elementos para enriquecer a composição visual.
O homem, em sua constante necessidade de se comunicar, foi aprimorando e desenvolvendo meios de comunicação, e hoje podemos utilizar essas ferramentas para facilitar esse processo.
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