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Notas

Aula 06


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Introdução

Anteriormente, foi citado que desenvolver um desenho depende de uma grande questão visual. A partir disso, concordamos que o desenho de representação e o de observação são exercícios de comparações e testes para obter noções de altura e largura; em outras palavras, devemos interpretar as proporções. Para conseguir calcular precisamente as proporções de um objeto ou figura a olho nu, no entanto, é preciso de muita prática. Enxergar além do que o objeto ou imagem mostra, ajuda a extrair informações visuais e mentais para facilitar a compreensão e interpretação das formas básicas.

Ao final desta aula, você será capaz de:

  • definir e listar os atributos do desenho de representação;
  • identificar as etapas do processo do desenho de observação;
  • reconhecer métodos para desenhar através da memória visual.
Fonte: Georgii Dolgykh / 123RF.

Desenho de Representação

História do Desenho: Como Surgiu a Arte de Desenhar?

A história do desenho começou há milhares de anos, na pré-história. Nas cavernas estão gravados, até hoje, por meio de desenhos, os hábitos e experiências dos chamados “homens das cavernas”, que usavam as pinturas rupestres como forma de se expressar e comunicar, antes mesmo que existisse a linguagem verbal.

Ao longo dos séculos e do desenvolvimento das artes e das ciências, o desenho passou a ser utilizado cada vez mais de formas diferentes e para fins variados. Pode-se dizer que o desenho é um precursor da linguagem escrita, da fotografia, do cinema, e até mesmo das representações cartográficas.

A arte de desenhar acompanhou o homem durante todo seu desenvolvimento, fazendo parte de sua história: ilustrando templos sagrados e tumbas; relatando a vida cotidiana e até mesmo a vida após a morte, como vemos nos desenhos egípcios; representando os deuses mitológicos gregos e romanos; ou ainda, conduzindo navegantes por mares desconhecidos como durante os séculos XV e XVI e nos séculos posteriores.

Na pré-história o desenho surgiu como uma forma de as pessoas se comunicarem facilitando o desenvolvimento de uma linguagem falada e escrita.

Sampaio (2006) refere-se ao ato de desenhar como semelhante ao da escrita:

Os riscos, desde os mais suaves até os mais fortes, têm características semelhantes: trêmulos, sinuosos, sem destinos definidos. São traçados com a falta de força ao segurar o lápis, como se pedisse para que se guiassem por si só [...]. Segue um caminho ora imaginado, mas sem a presença de um traço rígido, ora ganhando um trajeto inesperado (SAMPAIO, 2003 apud SAMPAIO, 2006, p. 48).

É praticamente impossível de determinar se o homem aprendeu a desenhar antes de falar. A linguagem oral tem por característica justamente o fato de não deixar registros, diferentemente dos desenhos, que estão registrados nas paredes, como as pinturas rupestres. Mas é inegável que a expressão por meio de pinturas facilitou a comunicação para aqueles povos primitivos.

Foi na antiguidade que o desenho ganhou um status sagrado, especialmente no Egito, onde foi usado para decorar tumbas e templos.

Mesopotâmicos, Chineses e povos do continente Americano também desenvolveram seus próprios estilos de desenho, com significados próprios e que caracterizavam os hábitos e a cultura de cada população. Da mesma forma ocorreu na antiguidade clássica, quando gregos e romanos utilizaram o desenho para representar seus deuses mitológicos.

Valéry (2003) destacou o desaparecimento dos vestígios da criação na obra acabada:

Terminar uma obra consiste em fazer desaparecer tudo o que mostra ou sugere sua fabricação. O artista deve apenas, segundo essa condição ultrapassada, revelar-se por seu estilo, e deve manter seu esforço até que o trabalho tenha apagado as marcas do trabalho. Mas, como a preocupação com a pessoa e com o instante supera pouco a pouco a preocupação com a obra em si e com a duração, a condição de acabamento passou a parecer não só inútil e incômoda, como até mesmo contrária à verdade, à sensibilidade e à manifestação do gênio. A personalidade tornou-se essencial, até mesmo para o público. O esboço igualou-se ao quadro (VALÉRY, 2003, p. 37-38).

Composição de Elementos Estruturais

Antes de iniciarmos nossos desenhos, é muito importante avaliar as informações visuais e esboçar alguns desenhos iniciais do modelo desejado, além de compreender como se desenvolve as formas deste modelo e as variações tonais, buscando um arranjo equilibrado e, ainda, refletir sobre como o modelo deverá ser transmitido em seu desenho. Para desenvolver a composição é necessário aprender sobre os elementos estruturais.

Gozzer (2002) descreve sobre o início de seu processo de criação em desenho:

Esta figura desenhada é construída pela justaposição de linhas e linhas negras sobre um suporte branco. Há uma densidade matérica concentrada em certos momentos, alternada com zonas de maior leveza de linhas, ou com a presença de uma única linha, constituindo um processo pessoal de hachura (GOZZER, 2002, p. 44).

SAIBA MAIS

A escala, a distância de observação e a luz são fatores relevantes que alteram nossa percepção da textura e das superfícies que elas definem.

Fonte: Ching; Binggeli (2013).

A organização estrutural representa a primeira etapa que o desenhista deve levar em consideração para a formatação do modelo, considerando seus limites e proporções.

A natureza é rica em formas e proporções que podem ser reproduzidas em simples linhas esquemáticas. Nosso primeiro ponto de partida é realizar um esboço, ou seja, criar, por meio de traços simples e genéricos, o desenho do modelo no papel e adotar linhas claras e suaves, criando uma delimitação das formas geométricas básicas. É possível iniciar com um esquema simples e ir explorando novos fragmentos estruturais, que a cada traço esboçado resultará em um desenho, aproximando-se da forma real que compõe o modelo.

Wong afirma que os elementos conceituais estruturais não existem fora do desenho:

Elementos conceituais não são visíveis. Não existem na realidade, porém parecem estar presentes. Por exemplo, se sentimos que há um ponto no ângulo de um formato, que há uma linha marcando o contorno de um objeto, que há planos envolvendo um volume e volume ocupando o espaço. Esses pontos, linhas, planos e 15 volumes não estão realmente lá; se estiverem realmente lá, deixam de ser conceituais (WONG, 2001, p. 42).

É possível desenvolver um elemento estrutural livre sem nenhum tipo de traçado geométrico.

Podemos iniciar diretamente na forma geral, esboçando e repetindo o processo até resultar na forma almejada, com espontaneidade e traçado rápido, buscando uma compreensão intensiva de composição e proporção.

Figura 1: Processo de repetição
Fonte: sudowoodo / 123RF.

Os traçados poderão ser repassados tantas vezes quanto se achar necessário, buscando um traçado livre e contínuo; nesta etapa não precisamos de linhas finas e elegantes.

Desenho de Observação

O desenho da observação consiste em reproduzir de maneira mais realista um determinado assunto. Ele pode ser facilmente definido o como desenho ou pintura da realidade.

Atenção

A observação do modelo de um ponto de vista elevado separa ainda mais os diferentes elementos da cena e possibilita jogar com os diferentes espaços que se abrem entre eles. Ao contrário, se desenhamos uma cena do ponto de vista mais baixo que o habitual, a tendência é que diferentes elementos que compõem o modelo acabem por sobrepor-se.

Fonte: Roig (2014, p. 38).

O desenho de observação pode se manifestar de diversas formas: natureza morta, o desenho de um modelo (figurativo), desenho de paisagens, de arquitetura, etc.

Figura 2 - Desenho de observação de objeto
Fonte: undrey / 123RF.

Segundo Gabriel Roig (2007) não é, de modo algum, uma questão de interpretação, de imaginação, de criação. É uma arte difícil, porque requer um certo domínio dos conceitos básicos de desenho, mas também um treinamento pessoal sobre como alguém usa os seus sentidos.

ENTENDA O CONCEITO

A imagem não é inspirada de uma fotografia, por exemplo, ou a imaginação do artista, mas sim a partir da observação da vida real. Tradicionalmente, este tipo de desenho  é realizado com lápis, carvão ou outros utensílios.

Fonte: Roig (2014, p. 256).

O artista pode, ainda, usar uma caneta esferográfica ou nanquim, assim como tintas ou aquarelas para colorir.

Geralmente o exercício de desenho de observação é muito importante para o seu aperfeiçoamento como desenhista ou artista plástico. A partir dos seus desenhos, você poderá comunicar ideias e demonstrar sua forma de interpretar o mundo. Nardin (2004, p. 205) “[...] defende que o desenho de observação é também desenho de memória, uma vez que ambos tratam da apreensão pessoal da realidade”.

Cada detalhe é importante: a maneira como você escolhe a composição, as cores que você irá usar, como exatamente você pode retratar o modelo a ser desenhado, como você trabalha elementos técnicos como luz, sombra e contrastes (ROIG, 2014).

SAIBA MAIS

As propriedades da forma são afetadas pelas condições de observação: uma forma pode ter formatos distintos conforme nosso ângulo de visão; o tamanho aparente da forma é afetado pela distância de observação; o campo visual circundante influencia a identificação da forma.

Fonte: Ching (2002).

Um retrato mais verdadeiro que a natureza, é possível? Foto ou desenho? A diferença é pequena e ainda é um desenho!

Quando olhamos um bom desenho de observação, chegamos a dizer: “É incrível, parece uma foto!”.

Figura 3: Desenho de observação realístico
Fonte: torky / 123RF.

É imperativo trabalhar em seu desenho e dominar o gesto. Em um desenho de observação bem-sucedido, encontramos: a perspectiva, respeito pela proporção, texturas e materiais, sombras e luz, a finura das características e o cuidado dos detalhes.

Desenhos de Memória

Para estas séries, foi pensado em desenhos também obtidos a partir da observação do real, como já foi dito, lidamos aqui com uma memória relativamente mais longa do que aquela utilizada nos desenhos anteriores. Se naqueles desenhos, as práticas de observar o modelo e desenhá-lo aconteciam alternada e imediatamente, os desenhos de memória só podem se diferenciar destes por um distanciamento espacial e temporal com relação ao referente.

Este distanciamento implica uma série de adaptações visuais, visto a impossibilidade de fixar a imagem em sua totalidade na memória. Esta fixação se dá no desenho, que se tornará público, ou seja, o outro vai ter acesso à imagem por meio da adaptação física e matérica que o artista faz das características visuais apreendidas.

ENTENDA O CONCEITO

Quanto maior a aplicação do contraste entre luz e sombra em seu desenho, mais aumenta a proximidade do objeto desenhado. Por isso, devemos controlar nossa intensidade e buscar um equilíbrio mútuo em nosso trabalho final.

Características estas, aproximadas do modelo, posto que foi interpretada por aquele que desenha, constituindo o resultado, em uma espécie de realidade própria (independente do modelo), no contexto da arte.

Figura 4: Desenho de memória
Fonte: Oksana Kuzmina / 123RF.

O processo de criação das formas por meio desta prática se deu, inicialmente, a partir da memória visual. Neste momento, o modelo deveria ser somente observado, procurando por meio da abstração, memorizar seus elementos primários, tais como as linhas. Estas linhas, que existem nos desenhos, não existem fora dele, pois são elementos conceituais, como afirmado por Wong:

Elementos conceituais não são visíveis. Não existem na realidade, porém parecem estar presentes. Por exemplo, se sentimos que há um ponto no ângulo de um formato, que há uma linha marcando o contorno de um objeto, que há planos envolvendo um volume e volume ocupando o espaço. Esses pontos, linhas, planos e volumes não estão realmente lá; se estiverem realmente lá, deixam de ser conceituais (WONG, 2001, p. 42).

SAIBA MAIS

Tudo o que vemos na natureza são tonalidades dispostas lado a lado, não há linhas. Se você entender bem esta premissa, ficará mais fácil para completar um desenho 100% tonal.

Fonte: Birch e Helen (2015).

O desenho de memória pode, nesse sentido, ser uma maneira de evitar formas estereotipadas ou aquelas rigidamente pré-estabelecidas, como as métricas de proporção e simetria, uma vez que, feitos indiretamente, podem gerar formas estilizadas mais ou menos “acidentais”, dadas pela liberdade de traço.

SAIBA MAIS

A seguir temos um trecho extraído da entrevista do designer da Apple, Jonathan Ive, para a repórter Anna Winston em 2014, na revista digital Dezeen (2014, on-line). O título da entrevista já presume uma crítica do designer: “Design Education is ‘tragic’”, traduzindo de forma informal, seria “O Ensino do Design é uma tragédia”. Nela, o autor critica a postura atual das escolas de design de não fomentarem a prototipagem física e ressalta a importância da representação tridimensional no processo de design (traduções da autora). “Falando no Design Museum de Londres ontem à noite (12/11/2014), Ive atacou as escolas de design por não ensinar os alunos a fazer produtos físicos e confiar muito em computadores ‘baratos’”.

“Muitos dos designers que entrevistamos não sabem como fazer coisas, porque oficinas em escolas de design são caras e os computadores são mais baratos”, disse Ive. “Isso é apenas trágico, que você possa passar quatro anos de sua vida estudando o design de objetos tridimensionais e não fazer um”. “Enquanto - as escolas de design de hoje - podem ter sofisticadas ferramentas de design virtual; o perigo de confiar demais nelas é que elas podem acabar nos isolando do mundo físico”. Ive estudou design industrial no Newcastle Polytechnic (agora Universidade de Northumbria) na década de 1980, depois se mudou para a Califórnia para se juntar à Apple, em 1992. Seus comentários surgiram após uma série de encerramentos de cursos de design na Grã-Bretanha, que foram atribuídos aos custos associados às instalações necessárias para fazer objetos físicos.

Fonte: Winston (2014).

Fechamento

O desenho, como pôde ser visto nesta aula, constituiu ao longo da história uma função primordial no que diz respeito às expressões gráficas e visuais. Esse fato ocorre, principalmente, por que desde a infância o ser humano utiliza o desenho como meio de expressar seus sentimentos, memórias, criatividade, etc.

Além de ser fonte de representação, o desenho estimula a criatividade e desenvolve atividades em que desempenha o ponto de partida de todo projeto. Esta função de destaque está nas obras de arte: como pinturas de objetos e paisagens, representados pelo desenho de observação e pelo desenho de memória, adquirido ao longo das experiências vividas por cada indivíduo, ficando no inconsciente, constituindo um banco de dados primordial para desenvolvimento da criatividade.

Nesta aula, você teve a oportunidade de:

  • conhecer um pouco da história do desenho;
  • compreender os conceitos gerais sobre desenho de observação;
  • entender como o desenho de memória contribui para o processo criativo.

Atividade Complementar

Proposta de leitura do artigo: O DESENHO COMO FORMA DE EXPRESSÃO NO ENSINO DE ARTES VISUAIS. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/BUBD-A9FECC/monografia_valeria_luzia_fernandes_carvalho___2015.pdf?sequence=1>. Acesso em: 02 mai. 2019.

Esse artigo científico, por meio de uma revisão bibliográfica, visa mostrar como é possível, através de uma metodologia adequada, que a criança possa se expressar através do desenho, livre de estereótipos. Foi elaborado em consonância com estudos das obras do artista José Leonilson e do poeta Manoel de Barros, embasado nas teorias de Lúcia Gouveia Pimentel e Ana Mae Barbosa. Para comprovar que é possível a criança se auto expressar através do desenho, foi proposta uma oficina em que as crianças puderam conhecer as obras dos artistas citados e experienciaram momentos de criação, realizando desenhos em papel sulfite A4 e depois com linha e tecido.

Na Prática

Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai - IDEAU, no período de janeiro a julho de 2011, desenvolveu um estudo direcionado ao olhar do desenho como a primeira forma de expressão gráfica infantil e se constitui uma linguagem universal presente em todas as culturas desde os tempos antigos. Ao desenhar, a criança deixa marcas no papel e registra seus pensamentos e sentimentos. A produção criadora envolve o pensamento, a criatividade, a imaginação e os sonhos. Através do desenho, a criança representa objetos significativos, sejam eles reais ou imaginados. O desenho infantil passa por etapas conforme a criança se desenvolve. A evolução gráfica se relaciona à maturação da percepção motora e cerebral além de envolver mecanismos biológicos e sensoriais.

Disponível em: <https://www.ideau.com.br/getulio/restrito/upload/revistasartigos/149_1.pdf>. Acesso em: 02 mai. 2019.

Estudo de caso

No estudo desenvolvido por Vidal e Silva (2018), foi realizado uma investigação quali-quantitativa efetuada em uma escola do ensino fundamental de Jacupiranga/SP. Os alunos dos sextos e sétimos anos tiveram seus conhecimentos prévios sobre os insetos detectados através de desenhos e, após, foram participantes de uma sequência didática na qual o conceito de inseto, representado neste trabalho pelas características de segmentação do corpo, asas, antenas e local de inserção dos apêndices, foi trabalhado utilizando materiais concretos que possibilitaram desenhos de observação. Os conhecimentos adquiridos foram avaliados através de desenhos que os alunos fizeram representando os insetos: abelha, besouro, borboleta e mosca. A intervenção ajudou a ampliar o conhecimento e a observar que precisamos organizar outras sequências didáticas que enfoquem as dimensões valorativas e políticas relativas à preservação da biodiversidade.

Vídeo

Para complementar o seu aprendizado, assista à videoaula a seguir:

Aula Concluída!

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